terça-feira, 2 de julho de 2013

O partido da vanguarda sem vanguarda

O diferencial dos partidos marxistas, aquele que os faz superiores a todos os demais, é a estrutura de comando. O "camarada Lênin" concebeu seu "partido da vanguarda do proletariado" inspirado nos personagens de N. G. Tchernichevski: a organização deveria ser composta por revolucionários profissionais, que precisariam dedicar suas vidas à causa. A organização não tolera dissidências ou opiniões heterodoxas - quaisquer desvios são punidos com a expulsão ou, uma vez instaurados os regimes comunistas, a morte. É um tipo de organização quase militar, composta por pessoas muito bem orientadas e treinadas, de uma eficiência assassina. Aliás, é a única coisa eficiente nos sistemas comunistas. A única não: uma das duas coisas eficientes - o partido e o Gulag.

Por que a direita não tem algo parecido? Porque ela não existe. Ao menos, não existe algo que se possa chamar de "direita organizada" (muito menos uma "vanguarda" ou "contra-revolucionários profissionais"). Todas as organizações políticas de estrutura como a descrita estão nas mãos da esquerda, seja ela a variante fabiana (social-democrata, trabalhista et caterva) ou comunista. Enquanto a direita conservadora-liberal - que com certeza representa a maioria da população brasileira, seja católica, seja protestante, seja atéia pró-ocidental - não se articular, vai permanecer à margem da vida política nacional. Ou vai para muito além dela. Para baixo, para o fundo da cova coletiva tão prometida por Kruschev.

No país, o máximo que se pode chamar de direita é uma meia-dúzia de excêntricos caricaturais, como os senhores Jair Bolsonaro e Marco Feliciano. Pessoas intelectualmente irrelevantes, mas que condensam alguns valores defendidos pela maior parte da nação: a família tradicional, penas mais rigorosas para criminosos, a defesa do direito à posse e ao porte de armas de fogo, o cristianismo etc. Naturalmente, não são indivíduos capazes de articular um movimento de massas capaz de competir em pé de igualdade com os exércitos de milhões de militantes, brutais e disciplinados, da esquerda, tanto por razões políticas quanto econômicas.

Do ponto de vista político, estes personagens estão perdidos já dentro de partidos de esquerda. Provavelmente, estão impedidos de mudar de sigla por razões legais (para não perder cargos) e, mesmo que o pudessem fazer, não haveria um partido de direita para recebê-los. A burocracia envolvida na criação de novas agremiações é tão enorme, tão esmagadora, que a mera hipótese de criar um novo causa dores de cabeça. O caso do pobre Liber - que é uma bela iniciativa, diga-se de passagem - é proverbial.

Do ponto de vista econômico, a criação de uma organização como a que é necessária para a direita é simplesmente inviável por duas razões: em primeiro lugar, o povo brasileiro não costuma dar "seu suor e seu sangue" - muito menos o seu dinheiro - por um partido. Em segundo lugar, não há (que eu saiba) no mundo uma carteira tão recheada como a do senhor George Soros disposta a financiar oganizações conservadoras-liberais, muito menos organizações conservadoras-liberais do Brasil.

Lenin sabia que nenhum de seus comparsas era membro do proletariado. Eram assassinos, ladrões, assaltantes (como Stalin), maníacos pervertidos (como Yezhov), nobres vagabundos (como Dzerzhinsky e o próprio Lenin) e membros de outras categorias invejáveis. Mas, com certeza, estes homens eram a elite do partido, eram os "revolucionários profissionais". Eram "a vanguarda do movimento". A massa, ainda que desorganizada, poderia até compor um partido conservador, no Brasil, mas, ainda assim, não haveria uma vanguarda. Sem sua cabeça, o corpo para nada serve.

*Fica aqui a análise de conjuntura que inspirou este texto:


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