quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A nossa moral e a deles

"Razão e justiça controlam a estrela mais remota e solitária. Olhe para aquelas estrelas. Não parecem safiras e diamantes solitários? Bem, você pode imaginar qualquer maluquice botânica e geológica que lhe agrade. Pensar em florestas de adamantino com folhas de brilhantes. Pensar  que a lua é uma lua azul, uma enorme safira solitária. Mas não acredite que essa astronomia fanática possa fazer a mínima diferença para a razão e a justiça de conduta. Em planícies de opala, abaixo de penhascos cunhados em pérola, você ainda encontraria um aviso no mural: 'Não roubarás'"

De G.K. Chesterton, em A Inocência do Padre Brown.


Uma das mais elementares diferenças entre o movimento revolucionário, nas suas diversas vertentes, e o ponto de vista conservador é a crença na existência de valores morais eternos e universais, por parte deste. Para o conservador, a justiça, a decência, o respeito cedido à liberdade e à vida alheias, bem como os conceitos de bem e mal, todos são valores eternos, válidos para todos os seres humanos. As leis que valem para um devem valer para o outro, não importando a que se atribuem as ações de quem quer que seja. Se alguém comete um ato criminoso, o mesmo não se torna menos criminoso em razão do que o agente diga que é seu motivo. Para o revolucionário, a coisa é um pouco diferente.


O bom comunista deve estar disposto a defender o terror político, o assassinato, o roubo e o genocídio em nome da causa. Não é a minha opinião, é a de Marx, Engels, Trotsky, Lenin e Stalin. Basta ler os textos dos mesmos que já são amplamente conhecidos pelo público em geral para constatar este fato. O jornal Neue Rheinische Zeitung, de Marx e Engels, dá testemunho disto. Trotsky é ainda mais explícito, em Nossa moral e a deles e em Terrorismo e comunismo. Ele dizia: "Ser contra o terror político, por princípio, é ser contra o governo do proletariado".

O bom conservador respeita as leis, mesmo que isso seja prejudicial à sua causa. A própria origem do termo tem sua raiz em comum com a equivalente médica, a contraposição entre o tratamento radical e o tratamento conservador. Enquanto o tratamento radical admite amputações e intervenções agressivas (muitas vezes desastrosas), o tratamento conservador procura as soluções menos danosas para o paciente. É uma questão de jogar a água fora, sem se livrar simultaneamente da criança. Para o revolucionário, a criança pode ser descartada com o resto - ainda que ele diga, por mais estúpido que pareça, que o faz em nome da criança.

A moral e a religião são atacadas pelo revolucionário pela mesma razão. Para que seja alcançada a sociedade perfeita, dizem eles, pode ser necessário ignorar estes detalhes. Matar ou não matar? Porque não? Afinal, é em nome de um bem maior. O conservador é da opinião que dita que, a partir do momento em que se abandonam estes valores, simplesmente não será possível alcançar uma sociedade perfeita - porque não se pode chamar de perfeita uma civilização de terror, covas coletivas, do Gulag, de censura à toda e qualquer opinião contrária ao governo, de um povo posto à força de joelhos diante de governantes "iluminados", ainda que tudo isto seja em nome de maravilhas como uma sociedade sem classes, ou uma sociedade composta por seres humanos cuidadosamente selecionados com base em supostas melhorias físicas ou uma sociedade regida pela mais perfeita razão cartesiana. Até porque, até onde dita o senso comum, os escravos do Gulag também são escravos, e os homens do governo são senhores, ou não? Parece que é assim. E me parece que a "raça superior" do nacional-socialismo perdeu a guerra contra as supostas "raças mais fracas", ou não? Também parece que sim. Além de tudo, me parece que os revolucionários franceses depuseram um rei para colocar em seu lugar um imperador (diga-se de passagem, com muito mais poderes que o rei). Corrijam-me se eu estiver equivocado.

Um líder conservador sempre preza pelos valores universais, pela justiça divina e pela razão obtida pela experiência das gerações anteriores, que ele respeita e não tenta amputar da experiência de seu tempo. Desde César, sabe-se que um governo com poderes excessivos tende a ser tirânico. Washington, por exemplo, sabia disso. Ele também sabia ser mais prudente não se aliar aos revolucionários franceses, que ele logo percebeu serem muito dispostos à conspiração, a mentiras e a todo tipo de expediente maligno em nome das "elevadas causas". O primeiro presidente dos Estados Unidos manteve firmemente a posição de não enviar auxílio militar à França de Robespierre, e sempre zelou pela paz até mesmo com o antigo nêmesis das colônias, o Império Britânico, ainda que este oferecesse risco à liberdade das colônias. A manobra permitiu aos Estados Unidos, nas décadas após a morte de Washington, manter boas relações com o país e até mesmo conseguir uma expansão significativa para o oeste. Os revolucionários franceses acreditavam na diplomacia da guilhotina. Foram todos guilhotinados. O conservador Washington acreditava na diplomacia do bom senso.

Sua carta de despedida para o povo americano, ao fim de seu governo, dá testemunho imortal do grande homem que foi e de sua sabedoria. Ainda vale, até para os brasileiros:

"A religião e a moral são condições necessárias para a prosperidade dos Estados. Seria em vão acreditar no patriotismo daquele que quiser destruir estas duas colunas do edifício social. Ambos, políticos e homens de fé, devem reverenciá-las e preservá-las. Um volume não bastaria para traçar as relações que elas têm com a felicidade pública e particular
...
Observai, diante de todas as nações, as regras da justiça  e da boa fé, para viver em paz com elas. A religião e a moral fazem disso uma lei e a política sóbria as imita. É digno de um povo esclarecido e livre, que em breve será um grande povo, dar ao universo um exemplo tão sublime quanto novo, mostrando-se constantemente movido pela justiça e pela boa vontade".

Washington terminou seu governo e se recusou a concorrer a um terceiro mandato, sabendo que abriria precedentes para governos ditatoriais. Ele sabia que a única garantia de liberdade é um governo de poderes limitados. Ele também sabia que os valores morais são eternos e universais, e sabia que  abandoná-los é abandonar também as supostas "causas elevadas".

Em 1797, George Washington, um conservador temente a Deus, já sabia muito bem destas coisas. Os políticos de hoje se esqueceram de tudo. Precisa-se urgentemente de mais homens como ele, em todos os governos do planeta.

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