sábado, 14 de junho de 2014

O calcanhar de aquiles do conservadorismo brasileiro

Parada militar soviética: a URSS forçava colegiais
a participarem de treinamento militar.
Imagem: Daily Motion
O movimento conservador do Brasil cresce vertiginosamente - o crescimento nas vendas de livros de autores identificados com a direita dá testemunho disso. Inúmeros autores se destacam - entre eles, com mais "eco" tanto nos meios "alternativos" quanto na grande mídia, estão nomes como Rodrigo Constantino, Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo Leandro Narloch. Não há dúvida que boa parte dos escritores liberais ou conservadores possui melhor formação política ou intelectual que os autores de esquerda: é muito comum encontrar trotskistas que não fazem a menor ideia do que Leon Trotsky defendia, ou marxistas que não leram uma obra sequer de Karl Marx - com muita sorte, é possível se deparar com um sujeito que leu o "manifesto", ou alguém que tenha lido uma edição resumida da "Ideologia Alemã". Os escritores e militanes do campo conservador-liberal normalmente conhecem bem os autores do outro lado, isso quando não são verdadeiros especialistas em literatura dos "cânones" bolcheviques - Reinaldo Azevedo é um grande conhecedor da obra de Gramsci, e Olavo de Carvalho leu a maior parte da obra de Marx disponível em português (assim como da disponível em outros idiomas), de Gramsci e de Lenin, o que lhes dá grande vantagem. Os dois foram militantes "de carteirinha" de partidos comunistas - Reinaldo Azevedo foi ligado à representação da quarta internacional no Brasil, enquanto Olavo foi filiado ao antigo PCB (atual PPS). O grande problema do conservadorismo brasileiro não é o conhecimento dos clássicos adversários - o "movimento" (se é que merece este nome, como veremos a seguir) está muito bem servido neste aspecto. A fraqueza mortal da direita brasileira é a falta de organização.

Os partidos comunistas são conhecidos por sua disciplina. Na antiga União Soviética, ser membro do partido significava ter uma dedicação perene e férrea à causa. Quadros com as mais diversas funções eram preparados física e intelectualmente para situações críticas - mesmo indivíduos sem qualquer exposição a tarefas "braçais" deveriam passar por treinamento militar rigoroso. As atividades partidárias permeavam todos os aspectos da vida, passando pelas reuniões lúdicas juvenis até as associações de escritores. A militarização da sociedade não atingia apenas membros do partido: cidadãos comuns, "sem carteirinha", também eram submetidos a treinamento militar severo, desde os anos escolares. Alunos eram mandados às fazendas coletivas para o aprendizado das funções mais exigentes no plantio, turmas eram forçadas a receber treinamento com fuzis, incluindo desmontagem e tiro (este tipo de curso, aliás, foi retomado na Rússia de Putin, onde os jovens são levados a disputar pelos melhores tempos de montagem de fuzis da linha AK). Esperava-se de um indivíduo com a carteirinha do partido uma dedicação ainda maior à causa - maior ao partido de Lenin do que à sua própria família. A militância política brasileira "normal", por outro lado, é o retrato do descaso (salvo, evidentemente, a militância dos partidos comunistas, que sabe até mesmo neste país o que é o rigor).

Os comunistas do Brasil são forçados a pagar muito caro por uma carteirinha do partido. Há contribuições para todos os partidos, e as mais caras são conhecidas como o "PTízimo" - a contribuição mandatória dos militantes do Partido dos Trabalhadores. Em um partido comunista brasileiro, espera-se que os quadros compareçam rigorosamente a todas as reuniões e manifestações, com indumentária impecável. Todos batem continência para os chefes das nacionais, sem pestanejar. Estão todos em forma, como exército, para levar à cabo as ordens do centro. Os conservadores, por outro lado, são incapazes de doar um centavo sequer. Organizar um partido conservador no Brasil é tarefa hercúlea, porque cada militante está mais preocupado com o conforto de seu lar e em parecer mais importante do que em levar adiante os projetos do grupo. Não há disciplina, não há planos, não há partido que vingue. O máximo que se pode esperar de um conservador brasileiro é que organize um "encontro", no qual, quase com certeza, ao invés de resoluções, ordens e projetos, irão "acontecer" cervejas e difamação. O militante conservador deste país é muito hábil para discussões nas redes sociais, para virar copos e para sentir inveja das capacidades do vizinho, mas é mesquinho demais para abrir a carteira em nome da agremiação e tolo demais para perceber que é impotente quando sozinho. O soldado, quando em um exército disciplinado devidamente abastecido, pode ser uma força invencível. Quando sozinho, é, na melhor das hipóteses, um prisioneiro - na pior delas, um cadáver.

Com certeza o Brasil ainda verá grandes convulsões nos próximos anos, graças à ascensão conservadora em curso. Nomes irão brilhar e, muito provavelmente, vencer disputas eleitorais. Livros serão publicados, egos irão se encher como balões. Mas a vitória só será do conservadorismo brasileiro caso estes tolos que chamam a seus pares de "liberais", "libertarians" e "conservadores" aprendam a dar suor e lágrimas pelos seus movimentos. Uma das máximas mais importantes do grande estrategista que foi Napoleão Bonaparte é: "um exército precisa de três coisas: dinheiro, dinheiro e dinheiro". Ele estava certo, mas esqueceu-se de uma: disciplina. Com as festinhas e intrigas, os conservadores só conseguirão o deprezo do Brasil. Com disciplina militar e com força para sacrificar seus próprios recursos financeiros pela causa, os conservadores poderão conquistar este país. Só o futuro dirá qual dos objetivos o movimento vai escolher: o fracasso e a humilhação em nome do conforto ou a vitória a preço de sangue.

Treinamento de montagem de fuzil da linha Kalashnikov em escola no regime de Putin:


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