domingo, 31 de janeiro de 2016

O erro de Reinaldo Azevedo sobre Bolsonaro

Reinaldo Azevedo é um colunista conservador que, sem sombra de dúvidas, fez muito pelo movimento de oposição ao partido dos trabalhadores. Não há dúvida a respeito de sua capacidade intelectual ou da firmeza de suas convicções sobre o sistema totalitário em gestação, desenhado pela esquerda brasileira. O problema do jornalista - e de muitos na direita brasileira, aliás - é a interpretação estritamente ideológica de um problema objetivo. Quando Reinaldo avalia Jair Bolsonaro como pré-candidato à presidência, quem fala mais alto na consciência do colunista da revista Veja é a "doença" intelectual já conhecida: as características tão bem descritas por Eric Voegelin e Russell Kirk parecem gritar, em cada frase do sujeito - a "proibição do questionamento", a incapacidade de avaliação objetiva de um dado da realidade e o apego desesperado aos dogmas que prometem o "paraíso futuro". Quando Reinaldo Azevedo fala a respeito do que deseja trazer à sociedade com as ideias que divulga, o público fica diante de mais um dos "profetas" do paraíso metastático - Reinaldo acredita no "socialismo da apple", no paraíso que pode nascer do livre-mercado, ou na sociedade perfeita fundada pelos ideais da democracia. É, mais uma vez, a pretensão gnóstica de refazer o mundo de cima a baixo com a pequena lista de axiomas ideológicos, aquela mesma lista que se enraiza no cérebro do analista e o faz ver Bolsonaro como "um fascista", "um golpista". Que algumas palavras sejam ditas a respeito do militar.
Bolsonaro: não é um gênio da política ou da filosofia, mas é
quem irá tirar o poder do PT
Imagem: http://goo.gl/k5r1jk

Jair Bolsonaro não é um pensador político, longe disso. Nenhum dos entusiastas do sujeito disse tal coisa, jamais. Bolsonaro sequer é um sujeito particularmente inteligente - se o fosse, nem por um segundo iria cometer a quantidade de erros estratégicos que cometeu ao longo de sua vida, e não iria depender de um movimento social e político essencialmente erguido pelo autor - esse, de fato, um filósofo, um grande pensador, poliglota e autodidata - Olavo de Carvalho. Sem o vasto movimento político que sacode a nação, criado do zero por Olavo, em um trabalho que foi da divulgação dos autores principais do conservadorismo até a articulação de lideranças políticas, como Van Hattem, Paulo Eduardo Martins, Hermes Rodrigues Nery e outros, Bolsonaro seria absolutamente nada. O movimento "bolsonarista" nunca consiguiria uma única vitória - só o vez no terreno conquistado previamente por Olavo de Carvalho, que foi o precursor de uma onda conservadora que mudou a paisagem intelectual brasileira, da literatura, passando pela comédia e chegando aos meios de comunicação jornalísticos, como as obras-primas que são o Mídia Sem Máscara e a Rádio Vox. Tudo isso foi possível ao trabalho feito desde o início da década de 1990 pelo escritor e pensador, não pelo militar de corte de cabelo esquisito "descoberto" pelo público depois de falar algumas verdades para a sub-celebridade do movimento gay ou para a senhora Maria do Rosário. A escolha de Bolsonaro não é por seu mérito, intelecto, obra escrita, legado cultural para a nação (que é, absolutamente, nenhum) ou mesmo por seu discurso caricato - há outros muito capazes de falar da mesma forma, como visto na última eleição. A decisão de votar no militar se deve apenas à preferência popular por ele: o público o quer como presidente porque entende Bolsonaro como a antítese do PT, e apenas isso.

Bolsonaro conseguiu destaque não por falar sem ter medo de ofender as sensibilidades esquerdistas - um dos candidatos do último pleito fazia precisamente isso, o senhor Joaquim Levy. Todavia, Bolsonaro representa, para o povo, o "anti-Lula". É um indivíduo intelectualmente mediano, mas que tem um nojo sincero pela esquerda, e fala como Lula falaria, da forma que a população entende. O candidato não conhece meias-palavras - ataca sem medo, mostra os fatos, descreve a verdade como ela é. Parece estar livre de um histórico de corrupção, é visto até por personalidades como Joaquim Barbosa como um dos poucos políticos honestos. Essas características, que seriam "normais" em quaquer outra nação, são uma raridade no brasil - Bolsonaro não será eleito por ser um gênio ou um santo, será eleito porque simplesmente possui aquela mediocridade "saudável" para qualquer país normal. No Brasil, nação de 60.000 homicídios anuais governado por assassinos, traficantes de drogas e - literalmente - por uma assaltante de bancos, isso é "muita coisa". A "normalidade" e o ódio justificado transformaram Bolsonaro em um herói nacional, e é precisamente por essa razão que o voto deve ser dele, para a presidência. A ideologia jogou Reinaldo Azevedo em um mundo de perfeição abstrata, na adequação onírica aos moldes dos dogmas que ele agora esposa como o caminho infalível para o futuro. Reinaldo deixou a loucura trotskista para entrar em sua própria versão da loucura que ele pensa ser o mais perfeito retrato do liberalismo ou do conservadorismo clássico - o ex-comunista não poderia estar mais enganado.

Reinaldo Azevedo assume, e isso pode ser inferido através de suas afirmações, que "os valores da democracia brasileira são invioláveis" e que "a questão do casamento homossexual deve ser deixada de lado". De fato, a democracia é sempre desejável, no que diz respeito ao primeiro dogma, o que não significa que Bolsonaro seja contrário ao pleito ou mesmo que pretenda instituir sua própria versão da ditadura militar - longe disso. Por mais tolo que o pré-candidato seja, ele pretende, como todo político, concorrer normalmente. Ele não "articula os quartéis" para tomar o poder ilegalmente - se ele conseguir a presidência, será pelo voto. Nunca, apenas na cabeça de Azevedo, houve tais planos entre os eleitores de bolsonaro - nem mesmo o próprio Bolsonaro parece ter qualquer tipo de auto-ilusão a respeito de vencer por qualquer caminho que não seja a urna. Sobre o segundo ponto: e por que diabos um candidato conservador deveria concordar com o casamento gay? O conservadorismo de Reinaldo Azevedo não passa da ideologia socialista travestida de liberalismo econômico, que, por alguma razão, faz o colunista pensar que merece o rótulo de "conservador". Isso não é e nunca vai ser, no Brasil ou onde quer que seja, conservadorismo: isso é apenas a boa e velha tara ideológica - a obsessão agora é com a cartilha "libertarian", chamada por outro nome. E se Bolsonaro quiser se opor ao casamento gay? Não é o Brasil um país de maioria cristã? Por acaso todas as nações do Ocidente devem permitir a união de pessoas do mesmo sexo para serem consideradas democráticas? Se Azevedo não percebeu o ranço totalitário e irracionalista do novo conjunto de dogmas, o problema é dele. O fato é que, tanto quanto o marxismo, a "ideologia" travestida de "liberalismo" prejudica com a mesma intensidade a avaliação objetiva da realidade. Se a população é contra tal ou qual forma de associação ou de lei, não importa qual seja sua fantasia política - ela não será realidade. Se o único candidato capaz de vencer o totalitarismo petista é um militar sem um horizonte intelectual respeitável, essa é a realidade com a qual o analista deve lidar, e não um quadro idílico por Reinaldo sonhado, tira suspiros do marxista convertido aos brilhantes ideais da liberdade econômica.

Ninguém na direita irá acusar Reinaldo Azevedo de "traição", não creio que seja este o problema. O cacoete mental da ideologia é extremamente complexo: entre os defensores da intervenção americana no Oriente Médio havia ex-integrantes de movimentos comunistas. O sonho de uma "sociedade sem classes" perfeita, na cornucópia do comunismo, na qual os homens poderão "pescar pela manhã" e "trabalhar nas fábricas" à tarde, facilmente se transforma no sonho da "sociedade capitalista perfeita", com liberdade quase absoluta, com abundância inominável de todos os bens, em democracia tão perfeita que faria um nó na mais imaginativa alma entre os iluministas radicais. O que o colunista deve fazer - como devem também fazer todos os outros direitistas, conservadores, liberais ou apenas anticomunistas do Brasil - é avaliar a realidade como ela é, e não deixar-se enganar pela cegueira ideológica. Não há santos no Brasil e Bolsonaro deverá ser criticado até a sepultura, uma vez que tenha feito seu trabalho de tirar o poder do lulismo. Até lá, apesar de não haver um movimento formidavelmente capaz ou mesmo qualquer certeza de sua vitória, apenas uma tênue esperança, o movimento de oposição deve usá-lo para derrotar e humilhar o Partido dos Trabalhadores.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Sobre a ideologia e o direito de ir e vir

Russell Kirk e Eric Voegelin entendem o conceito de ideologia como o espectro das formas de ver o mundo que assumem um conjunto de diretrizes programáticas como o caminho para um "futuro perfeito", para um "novo mundo" - como canta o primeiro hino da União Soviética - ou mesmo para a reconstrução da humanidade da genética até o intelecto que levará ao advento do "homem novo" - o "homem ariano perfeito", ou a "humanidade pura" que Karl Marx enxerga em germe na condição da classe proletária. Ideologia não é apenas uma ideia que eventualmente possa ser tida pelo sujeito A ou B, longe disso. Não é um preconceito ou suposição que possa ser desenvolvida, ainda que por um integrante de um partido político. É um processo mental, quase uma reação alérgica imediata, que associa tais ou quais máximas a um futuro idílico no qual a humanidade poderá "viver na mais perfeita democracia, ou no qual "não haverá classes" ou no qual os homens serão "racialmente puros". É evidente que essas são apenas algumas das possibilidades prometidas pelas ideologias - a promessa de um "futuro ecologicamente sustentável", ou da prometida "paz mundial" também são retratos perfeitos do conceito de ideologia. Um aspecto perene de toda e qualquer ideologia é a caricatura grosseira de elementos que atraem a todas as pessoas - "igualdade" é algo positivo: a maioria dos homens querem ser tratados com justiça e equanimidade, o que não significa que a maioria dos homens estejam dispostos a exterminar até o último dos indivíduos que promovam a desigualdade ou ainda a enviar para campos de concentração toda e qualquer pessoa em discordância com a autoridade promotora da "igualdade". "Justiça social", seja lá o que quer dizer, soa como algo desejável, todos, presumivelmente, pensam que o trabalho escravo é uma prática condenável, e esperam que as pessoas responsáveis por esse tipo de prática sejam mais cedo ou mais tarde levadas a julgamento - e tudo isso não resulta em concordar com o genocídio da outra metade da raça humana, que possa eventualmente ter uma ideia diferente de "justiça social" como, por exemplo, as nações de fé corânica. O livro de Muhammad - que era, aliás, um homem honrado, apesar do que se faz em nome da religião por ele fundada - autoriza a escravidão e o concuinato. Então, deve-se construir um novo "paredón"? É lógico que a resposta seja negativa. Mesmo a liberdade, valor tão precioso do Ocidente, possui limites naturais, que a fazem ter sentido e preservar-se. Amar a liberdade significa, por exemplo, punir aqueles que, com sua própria liberdade, tomam ações que acabam com a liberdade alheia, ou ainda com as vidas ou com o intelecto. E, de fato, o que a ideologia da liberdade absoluta faz é a caricatura do valor, uma deformação grotesca que só vai acabar por matar o pilar da democracia que alega defender.

O presente texto, como pode-se presumir, falará a respeito da atual crise dos refugiados oriundos do Oriente Médio, mais especificamente, dos países conquistados pelo extremismo religioso - esse mesmo, o do estandarte negro no qual está registrada a declaração de fé. E falará também sobre por que a liberdade absoluta apenas poderá acabar com qualquer liberdade, quase que necessariamente, em uma síntese que provavelmente será celebrada pelo movimento revolucionário como um primor da estupidez "democracista" - tomo aqui a liberdade de condensar nesse termo aquilo que Russell Kirk criticava nas administrações republicanas responsáveis pela intervenção no Iraque. A sequência de constatações lógicas que levam ao desatre, já testemunhado pelos europeus, é quase implacável - um fato "como dois mais dois são quatro". Para colocar em resumo, primeiro vamos lembrar de dois fatos simples: só possui liberdade absoluta aquele que tem poder absoluto, o que, obrigatoriamente, significa que os indivíduos mais próximos da liberdade absoluta são os tiranos. "Reis e Imperadores" são livres para habitarem onde for mais agradável, em seus domínios. Ditadores são livres para fazer as extravagâncias mais imorais e doentias; têm em suas mãos os meios para fazer absolutamente qualquer uma de suas vontades contra seus súditos, como fez o governante da "Coreia Popular" ao jogar às feras um de seus generais. Aliás, o mais novo rebento da dinastia vermelha estudou na Suíça - seus filhos, assim como ele, terão o poder e a riqueza para estudarem onde seus caprichos desejarem. Uma vez constatado o primeiro fato, "só os tiranos possuem liberdade absoluta", vamos ao segundo: a liberdade, para estar mais próxima de todos os cidadãos, precisa ser limitada. Este não é um "manifesto pela ditadura", longe disso. A Revolução Americana foi feita "contra os reis", contra a maldição jogada por Deus sobre a humanidade no Antigo Testamento: "querem um rei? Então são livres para padecerem sob os punhos do tirano". Os colonos ergueram-se precisamente para controlar os poderes da elite do Estado. Washington, quando convidado por seus soldados a assumir o posto de "rei", qual ditador dos Estados Unidos, recusou , e pediu que nunca mais falassem tal absurdo para ele, se tivessem algum respeito por seu general - até hoje, o primeiro presidente é considerado um modelo de conduta e moral pelo povo americano. Temos, então, os dois dados: só o poder absoluto conhece a liberdade absoluta, e a liberdade precisa ser limitada, caso se queira levá-la para a maioria dos homens de uma nação. Podemos voltar à crise presente.

Washington entendeu a importância da moral de um povo para a existência da liberdade, e restringiu seu próprio poder
em outras palavras, sua liberdade - em nome da democracia. A cultura e o bom-senso são o alicerce da liberdade.
Imagem: https://goo.gl/4ygk4k
 O argumento daqueles que defendem a entrada incondicional de refugiados na Europa é que as restrições são quase como um pecado contra a liberdade humana. A realidade é que esses refugiados vêm de nações que não conhecem a liberdade, e eles estão em milhões, não apenas da Síria, mas da África e até mesmo da Ásia Central, aproveitando-se do caos para procurar uma vida melhor. A tentativa é compreensível, mas a entrada indiscriminada, ao invés de propagar a cultura e a civilização europeia, apenas pode substituir o que hoje existe pelo que é trazido pela quantidade maciça de pessoas, em sua maiora, de culturas hostis à liberdade. Não há liberdade entre homens que a odeiam - é por essa razão muito simples que não há liberdade na Arábia Saudita ou no Irã. O raciocínio dos que defendem a imigração "em absoluto" é quase o mesmo dos que acreditavam ser possível levar a democracia ao Iraque através das bombas - e a forma de pensar é tão estúpida quanto, trata-se apenas de outro "ramo" da grande árvore das ideologias. Não há democracia entre as nações que não a querem, não há liberdade em uma cultura que a sufoca - por essa razão muito simples não pode nem poderá haver liberdade sob o véu ou sob as autorizações à escravidão, com base na escritura intocável, para eles, ou sob a violência autorizada contra as mulheres. A desvantagem "demográfica" da proposta de entrada ilimitada é óbvia - apenas em 2015, mais de um milhão de refugiados entraram na Alemanha. Qual parte do mundo possui maior fertilidade e até mesmo mais habitantes, atualmente, a imensidão dos continentes que exportam bocas famintas ou a tímida e pequenina nação no meio da Europa? A resposta aparece nos noticiários e no terror que reina soberano entre a população local. É evidente que nem todo o ingresso deve ser restringido, desde que o candidato seja instruído no modo de viver da "nova casa", e que seja ensinado a amar os mesmos valores da nação que quer ter como anfitriã, ou é algum absurdo pensar dessa forma? George Washington avisava - apenas um povo que ame a moral e a liberdade poderá viver em democracia. Acabe com esses valores, e o que restará é o sofrimento e o poder absoluto, novamente, para a já surrada Europa.

Para além da discussão sobre a entrada de pessoas em tal ou qual país, deve-se lembrar de um dado esquecido, nas atuais discussões. O mundo vive uma das mais importantes guerras dos últimos trinta anos, que talvez diminua de importância apenas em comparação com a Guerra Fria. O atual conflito não é contra apenas uma nação - é contra um sistema de pensamento que se alastrou por uma fração gigantesca do planeta. A ideologia conhecida como "islam político" é a grande força que move organizações como a infame Fraternidade, no Egito, e o califado na Síria. É o motor por trás dos crimes na Nigéria, na Líbia e até no cáucaso, onde Al-Baghdadi já possui soldados em operação. A dimensão do problema é global, e é objetivamente impossivel controlar a atividade dos integrantes desses grupos. Como pode ser possível "abrir fronteiras" nessa situação? O que diriam os generais aliados, durante a última grande guerra, se ouvissem a proposta de "abrir fronteiras"? O resultado que esses generais esperavam impedir é exatamente aquilo que a Europa está vivendo, em episódios que apenas podem ser descritos como massacres - o fruto da ideologia, da caricatura do valor, irresponsável e assassina, são mais de cento e vinte cidadãos franceses mortos, apenas em Paris. As pessoas de ascendência israelita já estão fugindo - em Marselha, uma família foi atacada a golpes de facão enquanto saía de uma sinagoga, por um dos indivíduos piedosamente chamados de "refugiados", há poucos dias. A liberdade absoluta é apenas fruto do delírio, da caricatura mental feita por indivíduos que não fazem a menor ideia das limitações que foram impostas precisamente para garanti-la à maioria das pessoas. Sem limitação à atuação daqueles que querem matar a liberdade, ela é simplesmente impossível.

Tudo o que acontece na Alemanha, na Suécia, na Áustria, na França e nos outros países afetados pela onda de destruição atual é apenas o resultado da aplicação dessa nova ideologia, que já fez seus cadáveres no começo da década de XX em outras vestimentas, na loucura do "democratismo pela guerra". A ideologia não transformou o Iraque em uma nação "ocidental": transformou-o em um inferno. A ideologia do iluminismo radical de Rousseau não transformou a França na mais bela democracia que o mundo já viu - transformou-a em um campo sangrento de terror e cabeças cortadas. A ideologia do comunismo não transformou a nação russa no paraíso da classe trabalhadora - transformou-a em um enorme campo de concentração, e em uma cova coletiva com vinte milhões de cadáveres. Assim como suas irmãs de outras cores, a ideologia da "livre-circulação de pessoas entre países" não está levando a alegria e a riqueza do Ocidente às pessoas que sofrem em seus países de origem - está levando o sofrimento, em massa, em violência indescritível mesmo contra as mulheres que os "amantes da liberdade" dizem defender. Como todas as ideologias, em sua deformação dos sonhos - belos, com absoluta certeza - da humanidade, as promessas de paraíso resultaram em desastre. Tudo o que restou das doces palavras sobre "caridade" foi o gosto amargo da opressão. Resta saber se haverá tempo para salvar a Europa - ou ao menos parte dela - das consequências civilizacionais da insanidade política. No fim, pode ser que haja esperança de salvar a liberdade - e espera-se que os povos, que viveram na pele a dor da realidade, aprendam que essa esperança nunca poderá estar na ideologia.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Yuri Bezmenov - Por que o vigor intelectual é uma questão de vida ou morte

A leitura das obras de Antonio Gramsci dá uma boa perspectiva do que é a aplicação da estratégia marxista nos mínimos detalhes da vida civilizada - no volume segundo dos Cadernos do Carcere, o socialista italiano sugere a importância da interferência direta nas escolas, para a aplicação das "estratégias de longo prazo" que vira como necessidades, ainda em seus escritos políticos nos anos de liberdade. Gramsci realiza um trabalho magnífico de estudo dos mais diversos assuntos e da edificação de um programa estratégico coerente, sobre camadas e camadas de análise de problemas muito concretos. Ainda que seus livros tenham um valor inestimável para estudantes do marxismo - sejam eles marxistas, "marxianos" ou marxólogos, conforme a distinção de Aron - simpáticos ou contrários à causa (como o autor destas linhas), Gramsci acaba por encolher formidavelmente diante dos autores que serviram diretamente ao projeto marxista. Pela própria natureza de seus escritos - estratégicos, de discussão de medidas reais a tomar para a conquista do poder - Gramsci é fraco como uma brisa diante dos verdadeiros soldados do sistema soviético, sejam eles homens do exército vermelho ou dos "órgãos". É por esta razão que Yuri Bezmenov brilha formidavelmente diante do teórico - aquilo que Gramsci apenas sonhou, diante do fracasso, Bezmenov fez com suas próprias mãos, viu, percebeu e entendeu in loco. 
Yuri Bezmenov na Índia: foi designado para investigar
hábitos de jovens de classe média americana sobre
"religiões asiáticas", meditação e consumo de drogas
Imagem: http://goo.gl/Q7ymLm

Bezmenov, como Suvorov e Volkogonov - respectivamente, integrantes do KGB, GRU (Inteligência Militar Soviética) e Exército Vermelho -, tornou-se crítico feroz do comunismo, em grande medida pelo sofrimento que o sistema soviético impôs não ao próprio agente desiludido, mas a seu povo e a outras nações, gradualmente conspurcadas pela imundície da ideologia leninista. Bezmenov foi, sem saber, uma engrenagem na máquina elaborada por Antonio Gramsci, a qual curiosamente só começaria a funcionar após o fim da vida de seu idealizador. Dentro do aparato de propaganda, Bezmenov atuou como agente, na Índia, e auxiliou em golpes de Estado que levaram serviçais do sistema soviético ao poder na Ásia. Ele entendeu que a missão dos cidadãos soviéticos designados para operações nas nações do terceiro mundo não era "libertar" ninguém do imperialismo - era apenas marcar os nomes daqueles que deveriam morrer na revolução. Era, além disso, tornar as futuras vítimas tão frágeis quanto possíveis - para isso, a arma empregada era a destruição de qualquer conhecimento ou hábito de valor nos objetos da conquista, em escala muito mais ousada do que a sugerida pelo antigo líder do PCI.

Um aspecto que chama atenção nos escritos de Suvorov e Bezmenov é a ênfase em coisas que parecem pouco significativas para "o advento do comunismo", como a "meditação" sobre a qual Bezmenov discute, em uma de suas palestras, ou a identificação de indivíduos que tenham o hábito de contratar serviços de prostitutas, ou mesmo de pessoas que sejam homossexuais - como registrado na obra "A Inteligência Militar Soviética". O ponto é que, para a estratégia de desmoralização - que vai muito além das "reformas educacionais" ou da "guerra de posição" - duas coisas aparentemente irrelevantes são, na realidade, muito necessárias: uma, que desempenha papel nos estágios posteriores à desmoralização em si, é o "mapeamento" de uma sociedade. O projeto marxista-leninista não pode se contentar apenas em tomar os órgãos formais de poder - é necessário ter o poder até mesmo sobre os criminosos mais pérfidos, ou, caso seja necessário, saber seus nomes e tudo o que for possível sobre suas vidas, para que o esforço necessário em seu extermínio seja o menor possível. Os agentes que realizam a desmoralização precisam saber quem são os indivíduos vulneráveis à chantagem e à ameaça, os indivíduos sem escrúpulos, dispostos a tudo por poder ou recursos - as pessoas com desvios sexuais mais gritantes, os que contratam ou estão ligados a prostitutas, os traficantes e os simplesmente gananciosos o suficiente, todos esses são sempre colocados entre as "prioridades" na sondagem do ator da campanha de sabotagem. Ao mesmo tempo em que a URSS mantinha o maior número desses indivíduos em uma proximidade útil, financiava uma estrutura colossal na promoção de tudo o que fosse inútil e nocivo para as capacidades intelectuais e até mesmo físicas dos ocidentais. A atuação dos partidos comunistas colombiano e cubano neste sentido é importante, como é discutido no livro "Red Cocaine", mas o exemplo dado por Bezmenov, sobre o estudo da meditação, é simplesmente notável.

Ion Mihai Pacepa - na companhia de nomes como Olavo de Carvalho e Ronald Rychlak - já discutiram amplamente sobre o papel desempenhado pela chamada "Teologia da Libertação" na destruição da religião cristã. A instrumentalização do catolicismo, com a finalidade óbvia de substituir a doutrina religiosa pelo pensamento marxista, fica clara através da observação das ligações políticas dos líderes do movimento, ou ainda através de seu discurso de classes, e a mais recente substituição da fé cristã pela crença em "Gaia" - no discurso do mais famoso apóstata brasileiro - tira qualquer dúvida a respeito da finalidade patológica do empreendimento socialista na religião. Bezmenov traz mais um capítulo dessa incursão do marxismo no espírito, com sua exposição do uso da religiosidade oriental - e das fraudes que se vendem como parte dela. O que o jornalista viu na Índia foi, com as filhas jovens  e incultas de americanos tolos o bastante para pensar que a contracultura fosse apenas um capricho da época, rigorosamente o mesmo que a Teologia da Libertação faz com a beutiful people brasileira - de fato, não é apenas a elite que foi varrida pela falsa religião instrumentalizada pelo socialismo: os mais pobres são submetidos pela horda de falsas igrejas protestantes simpáticas ao esquema petista, mais notoriamente, a seita do auto-intitulado "bispo" Edir Macedo. O discurso da falsa religião pregada aos adolescentes estúpidos no oriente, que não fala da realidade, apenas da "paz" ou do "equilíbrio interior" é exatamente o mesmo tipo de lixo consumido às toneladas neste lado do globo, mas na forma de literatura de psicologia pop ou na conversa mansa dos líderes religiosos "pelos mais pobres". Yuri Bezmenov rapidamente entendeu seu papel na máquina de demolição civilizacional marxista, e deixa muito claro o que se passava - ele teve o melhor dos treinamentos militares e intelectuais, tornou-se um homem versado em muitos idiomas e com uma capacidade de expressão formidável. Possuía a capacidade física de um atleta, e treinamento militar de qualidade. Cada um desses elementos foi assegurado pelo Estado Soviético em sua formação por uma razão muito simples: a razão de ser do cidadão socialista é a expansão do sistema e a gradual conquista dos vizinhos ainda não "coletivizados". As escolas russas, até os dias de hoje, fornecem treinamento militar básico, em tradição que remonta à década de 1930 - talvez vá ainda mais longe. Ao mesmo tempo em que o sistema fazia de tudo para formar cidadãos-soldados, todo o esforço de inteligência e propaganda era destinado à demolir a vitalidade, a moral e a inteligência do adversário - e este propósito foi alcançado com sucesso. A decadência visível das letras nos países ocidentais, assim como o horror da música contemporânea, dão testemunho do sucesso desta verdadeira agressão geracional. O que Gramsci apenas sugere é um átomo do que Bezmenov fez, ainda que na modesta condição de "fundionário" da máquina, ou do que ele viu. Ao italiano, naturalmente, vai o "crédito" pelo projeto, mas o ator russo é mais didático: Bezmenov não fala discretamente. Os exemplos são tragicamente óbvios, imediatos tangíveis, e seu impacto é sentido sem qualquer atenção especial.

O mais importante nas poucas palavras deixadas por Bezmenov aos indivíduos que lutam por uma sociedade "humana e normal", nos termos que ele coloca, é o aviso : o projeto leninista se baseia em permitir que o inimigo de devore por dentro. A conquista da revolução é sempre sobre uma carcaça podre - Lenin, o maior estrategista que a humanidade já viu, fundador de um modelo de partido copiado por homens que não de Saddam Hussein a Adolf Hitler, entendia muito isso bem. As armas com as quais Lenin edificou o poder soviético não foram "os trabalhadores e os camponeses" - foram os ricos degenerados, os traficantes, assasinos, pervertidos, nobres decaídos - como Dzerzhinski -, foram a gradual queda da Rússia na violência e no crime. A arma com a qual Lenin manteve o poder, depois de conquistado, foi a disciplina feroz. A proteção que Bezmenov oferece contra o bolchevismo é algo muito mais fácil de se alcançar do que o "comunismo de guerra". É, pura e simplesmente, o foco nas coisas úteis, produtivas, pragmáticas. O estudo sincero da realidade e da natureza dos problemas enfrentados pela sociedade. É, também, chamar as coisas pelos nomes, chamar os inimigos de inimigos. Yuri Bezmenov apela para que os ocidentais permaneçam fiéis às suas tradições milenares - não importa quais sejam -, pede que mantenham-se alertas e evitem o distanciamento do mundo real através de distrações pueris, autoengano ou prazer egocênrico descontrolado. A mensagem que o autor russo deixa é muito simples: enquanto o Ocidente se desfaz em lama, seus inimigos crescem em astúcia e força. A paz, como diz o ditado romano, é a preparação para a guerra.

Vídeo: Yuri Bezmenov sobre sua atuação na Índia, sobre as seitas "new age" e sobre a subversão



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Por que Bolsonaro é o melhor candidato à presidência, em 2018

Jair Bolsonaro é visto como inimigo por algumas frações dos movimentos conservadores e liberais brasileiros, erroneamente. Ainda que o eleitor hesitante acredite que o militar ofereça problemas para quem é simpático ao livre-mercado, a escolha do candidato vai para aspectos além das diferenças doutrinárias em um ou outro tema. A escolha de Bolsonaro não é baseada em convicção sobre sua qualidade pessoal ou formação teórica: é estratégica. Da mesma forma que um liberal convicto pode adotar uma posição aparentemente contráditória em defesa daquilo que ele mesmo preza, a compreensão dos motivos pelos quais deve-se porventura escolher um candidato realmente conservador deve apreender problemas imediatos enfrentados - no caso do Brasil, a vasta estrutura partidária que cerca não apenas o Partido dos Trabalhadores, mas todos os "partidos irmãos" e organizações associadas.
Imagem: http://goo.gl/NKa9kC

O primeiro e essencial motivo para a escolha de Jair Bolsonaro é o tipo de oposição que ele faz ao partido governante - Bolsonaro não tem medo de chamar criminosos de criminosos. Como Macri na Argentina, o capitão do exército demonstrou enfrentar com bravura uma vasta militância de hostilidade efetivamente homicida - basta lembrar o que foi feito a críticos bem menos vocais do governo, como Yves Hublet. Esse tipo de liderança é essencial na transição de um governo esquerdista de tendência autoriotária para a normalidade democrática da alternância de poder: foi precisamente assim que se fez a transição da Polônia do sistema comunista para o modelo atual, considerado um dos mais bem-sucedidos no Leste Europeu. Walesa é para a nação eslava exatamente o mesmo que Bolsonaro é para o Brasil: uma personalidade um tanto simplória, mas com a determinação moral e a coragem necessária para enfrentar sicofantas, e que, seguramente, tem vasto apoio popular. Já se pode especular que o patriarca da família Bolsonaro precisará apenas de mais algum estímulo propagandístico para destronar o movimento de Lula: nesse momento, nenhum político brasileiro pode se gabar de ser recebido como "rock star" em aeroportos. O amor do público ao oficial da reserva é uma evidência da vantagem tática que ele possui. Com Bolsonaro, é possível tomar da esquerda exatamente aquilo que fez de Lula uma espécie de marca: a celebração popular da personalidade.

A vantagem tática apontada é indiscutível, mesmo para os mais sonoros críticos da personagem. Todavia, Bolsonaro não é um completo desastre, em matéria de Economia. Ainda que tenha inúmeras reservas contra a legalização das drogas - bandeira perene de uma parte importante do liberalismo brasileiro -, Bolsonaro é um liberal, em sentido clássico, como já demontstrou em algumas de suas colocações mais recentes. O militar afirma que "o mercado deve regular a economia", e que defende a "privatização da Petrobras", que poderia "ter sido usada para prevenir o maior escândalo de corrupção que o país já viu". A família do "pop star" reacionário tem proximidade com o movimento conservador-liberal, e busca orientação com nomes da intelectualidade de direita que esposam o liberalismo clássico. Caso a defesa do mercado se mostre uma constante na "nova versão" do candidato, agora polido para o pensamento e debate político, a mudança faz dele uma arma ainda mais eficaz no processo de saneamento da vida pública nacional. O militar não terá medo de varrer o aparato burocrático colocado em funcionamento pela "ocupação de espaços" marxista, e, o que é tão necessário quanto, não hesitará em fazer as reformas que o Brasil necessita para mudar de uma economia desenvolvimentista-nacionalista-terceiromundista para a eficácia e prudência do liberalismo.

Edmund Burke foi liberal a vida inteira, entusiasta da revolução americana, mas não hesitou em mudar seu posicionamento diante da fúria da revolução francesa. No último pleito presidencial, milhares de liberais brasileiros votaram em Aécio, não por alguma "qualidade pessoal" do homem, mas por estrita necessidade. A realidade da vida política exige lidar sempre "com o que se tem". Bolsonaro não é Ronald Reagan, mas está muito acima de seus concorrentes. Sua candidatura é, verdadeiramente, o maior ataque já realizado contra a hegemonia revolucionária nos meios de comunicação, na "opinião pública" e na formulação de diretrizes econômicas. O clamor popular por sua presidência é uma facada no corpo do movimento marxista da qual este jamais se recuperará. Ainda que tenham todos os recursos para comprar vozes no meio artístico, ainda que tenham à sua disposição uma militância sem número e armada, perdem espaço a olhos vistos para um sujeito que, com toda evidência, representa aquilo que a esquerda mais abomina e mais se esforçou em sua história ao longo das últimas cinco décadas para tentar difamar ao povo: um militar, um representante do "patriarcado", integrante das forças armadas incessantemente submetidas à calúnia. A eleição de Bolsonaro poderá ser o ataque que quebrará a espinha do socialismo brasileiro, e fará aqui a mesma revolução econômica colocada em andamento por Macri, na nação vizinha. A vitória poderá ser mais um dos estertores derradeiros do sistema criado pelo Foro, que, ao que tudo indica, começará a se decompor para a prosperidade da América Latina.

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