quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O Supremo é apenas mais uma arma da casta burocrática

No Brasil não há tal coisa como "a classe dominante", no sentido marxista do termo. Há apenas grupos que se apossam do Estado, de tempos em tempos, e favorecem seus próprios movimentos políticos ou empresários de estimação. Essa configuração característica da sociedade impede que seja possível falar em "classes": seguindo a definição do autor (que tem apenas a terminologia como algo útil, dado que suas teorias são baseadas na fraude descarada de estatísticas, especificamente, as dos famosos Blue Books do governo britânico), "classe" é o grupo que possui o direito, de facto e de jure ao meio de produção. Nas suas considerações sobre o modo de produção asiático, Marx deixa claro que a casta, por sua vez, se apodera apenas de facto dos recursos produtivos. Trotsky, por exemplo, definia a elite soviética como uma casta - conforme o raciocínio do autor que o fundamentou, Liev Davidovich estava absolutamente correto. O Brasil, pela mesma lógica, tem apenas uma casta dominante - a casta burocrática. Como toda boa casta burocrática, ela não poderia deixar de assegurar seu controle sobre as mais importantes fatias do Judiciário, e é isto que ocorre atualmente.

A casta burocrática brasileira é complexa, mas alguns pontos ficam claros: a elite política e sindical é parasitária, intimamente ligada a grupos mafiosos que se apoderam de redes de serviços públicos ou de grandes companhias que são alimentadas por recursos estatais, por meio de licitações. Existe, efetivamente, uma relação simbiótica entre essas diversas "máfias" e a elite político-sindical: os partidos escolhem representantes dos grupos criminosos para cargos comissionados, e os mesmos bandidos que se infiltram na administração pública fazem uso dos recursos governamentais para reabastecer o aparato eleitoral, sindical e partidário. Nunca haverá uma redução sistemática nos salários dos cargos comissionados ou dos parlamentares por essa razão simples. Verdade seja dita: o parlamentar brasileiro é, como regra, um parasita - raríssimas exceções podem ser mencionadas. É natural que o STF, composto por indivíduos nomeados pelo cargo máximo do Executivo, também acabe infiltrado por "figuras marcadas" do sistema partidário-sindical e das máfias. É por esta razão que vemos ministros do Supremo libertando "amigos" ligados, por exemplo, à máfia dos transportes públicos do Rio de Janeiro. É assim que a casta burocrática opera, e faz questão de preservar a preciosa liberdade de seus ratos de estimação.

Como o Brasil poderá se livrar da casta, é um grande mistério, que provavelmente não tem solução. É a pergunta impossível, o enigma insondável que atormentará a vida das gerações futuras, condenadas a sofrer nas mãos dos vermes mais detestáveis que o continente americano já viu. Talvez um regime de rigidez e violência implacável seja capaz de limpar o país dessa corrupção - hipótese com um custo humanitário alto demais para ser pago. O mais provável é que o Brasil seja forçado a lidar com isso para sempre. É difícil pensar em que medida poderia acabar com essa articulação perfeita da ineficiência Estatal e da vilania de almas em claro estado de decomposição. Prender alguns dos partícipes desse sistema, ainda que seja uma medida paliativa, é ao menos uma compensação simbólica para o povo espoliado - na realidade, parasitado, por mais tempo do que seria saudável para qualquer nação.

Mais sobre o tema - Felipe Moura Brasil comenta citação de ministro do STF:

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