segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O Bolivarianismo treme

O comunismo (e os movimentos de esquerda, em geral) é extremamente impopular, e normalmente desperta reações de ódio em qualquer nação na qual venha a se estabelecer, seja na forma de regimes totalitários de partido único ou sob a máscara de "socialismos democráticos", como ocorre nos países escandinavos - supostamente, onde a social-democracia criou "paraísos esquerdistas", mas, na realidade, onde os movimentos "marxianos" acabaram por instituir sistemas paranóicos, quase esquizofrênicos, de assistencialismo e policiamento até de pequenos comportamentos individuais, intitulados pelos súditos de "hospícios" (fica a recomendação da leitura de "Madhouse", do autor sueco Daniel Hammarberg). A reação polonesa ao modelo esquerdista é proverbial, mas não isolada - Ucrânia, os países bálticos, a República Tcheca, a Hungria e até mesmo a Rússia vivenciam ondas de movimentos anti-comunistas (alguns dos quais possuem viés nacional-socialista, racista, antissemita e outros do campo autoritário) que apenas dão testemunho da reação de desgosto provocada pelo projeto, nas mais diversas comunidades. A Venezuela entrou para o rol de países que criaram franca antipatia pelo esquerdismo - como testemunhado nas últimas eleições -, a Argentina vivencia o mesmo e o Brasil já é forte candidato a adotar uma postura "lituana" diante do Partido dos Trabalhadores. O que se observa na América Latina é exatamente o mesmo tipo de fenômeno que levou ao colapso do socialismo no leste europeu: ira despertada por uma propaganda utópica francamente mentirosa e pela catástrofe econômica e social. O problema, para os companheiros, é que o ódio popukar ameaça o projeto "muy guapo" do super-partido chamado Foro de São Paulo.

O gradual enfraquecimento do esquema de poder inaugurado por Lula e Fidel Castro começou a ser observado nas ondas de protestos populares em anos anteriores contra o governo de Cristina Kirchner. A líder Argentina enfrentou greves, panelaços, paralizações importantes na economia e até mesmo teve de encarar de frente sindicatos do país, que, teoricamente, deveriam constituir a base de apoio de um governo que se considera herdeiro da mentalidade política de Perón, ou, ainda mais grave, de um governo que se supõe aliado dos "partidos da vanguarda" do proletariado latino-americano, através do Foro. Para sua grande frustração, o povo argentino, que deveria ser a espinha dorsal de um regime populista, se mostrou seu maior antagonista, e, em grande ironia, enfraquecida justamente pelos sindicatos que gostaria de representar, Cristina acabou por perder as eleições contra Macri, ainda que por tabela, na figura de seu sucessor, Scioli. A derrota de Cristina Kirchner foi uma grande punhalada no corpo do Foro, mas não foi a única.
Mauricio Macri, novo presidente da Argentina
Imagem: http://goo.gl/A1MJly

O regime socialista venezuelano vem enfrentando protestos importantes, que começaram ainda nos anos do governo de Hugo Chávez. A população inicialmente se mostrou indignada com os graves problemas de abastecimento que flagelam o pais, com escassez de inúmeros artigos básicos de alimentação, higiene, com uma inflação galopante e até mesmo com falta de medicamentos. A penúria "soviética" que aflige os venezuelanos não é o único tormento: o país também registra um aumento expressivo da violência urbana, que surge para coroar o cenário de caos econômico e civilizacional criado por mais de uma década de sistema bolivariano. Vale lembrar: o governo também criou uma lei de desarmamento, que, até o momento, apenas contribuiu para agravar os números de homicídios por ano, já vistos como entre os piores do continente, competindo com os dados brasileiros. Os súditos do chavismo se revoltaram contra este verdadeiro calvário, e a resposta estatal não ajudou em nada a imagem interna do poder socialista: durante as revoltas, centenas de manifestantes foram presos, muitos outros entre os revoltosos foram feridos, e o número de vítimas fatais é contabilizado às dezenas - mais recentemente, até mesmo um candidato da oposição foi assassinado, em público, no palanque. "Quem tem olhos, veja" segue o ditado, e, de fato, os venezuelanos vêem: Maduro acaba de sofrer uma pesada derrota, no momento em que sua oposição conquista a maioria dos postos no parlamento. O governo revolucionário está diante de um dilema: ou reprime a oposição com brutalidade já conhecida, criando ainda mais descontentamento e ódio ao sistema socialista fundado por Chávez, ou aceita a oposição, entrando em um dilema já vivido pelo camarada Jaruzelski, que, como já visto, termina mal (para os vermelhos, naturalmente).

Dilma Rousseff, pobre coitada, não poderia estar em pior momento. Humilhada por uma crise econômica de proporções diluvianas, colocada em postura ruminante por um processo que ameaça tomar seu mandato movido pelo TSE e ameaçada por um parlamento hostil, que mastiga gostosamente um processo de impeachment contra ela, a sucessora do "menino de ouro" das esquerdas, Lula da Silva, a presidente apenas pode tremer e tentar se defender, o melhor que pode. Não que o melhor dos esforços jurídicos e políticos seja algo irrelevante, longe disso. O PT é a maior máquina burocrática, política e talvez a segunda maior máquina militar do país, alicerçada em uma vasta rede de "soldados" a servir no MST, na CUT, na UNE, nos Black Blocks - tão celebrados pela esquerda do "socialismo e liberdade" e até por um famoso jornalista de notória simpatia pelo socialismo. O PT, suas filiais - UNE, CUT, os partidos da esquerda "alternativa" e companhia -  e o exército do Stédile contam com um quase infinito tecido de assessores jurídicos, de auto-falantes nos veículos de comunicação e empreendimentos artísticos financiados com propaganda das estatais e até mesmo com um grande leque de simpatizantes estrangeiros. Entre os mais entusiasmados - e mais perigosos, sob o ponto de vista bélico - estão os barulhentos colegas das repúblicas bolivarianas, que não hesitam em fazer ameaças abertas, como já dito pelo senhor Evo Morales e pelo enfraquecido Nicolás Maduro. Apesar de toda a estrutura política, de todo apoio econômico e militar, seja ele fornecido pelos colegas membros do Foro de São Paulo como Farc, Venezuela, Bolívia, ou ainda apesar da bajulação da mídia "domada" pelos recursos de propaganda, ou mesmo com todo o financiamento proveniente da própria corrupção que caracterizou quase ontologicamente o Partido dos Trabalhadores, Dilma sofre como um moribundo. A onda de manifestações que abala o Brasil desde 2013 criou uma ferida gigntesca no sistema do Foro de São Paulo, ao menos neste país. Os ataques diretos, desrespeitosos, quase selvagens à figura da presidente dão prova de que o desafio dos petistas é muito maior do que toda a falange de para-choques deixaria parecer. Em qualquer outro momento, o "bolivarianismo" estaria seguro. Na atual crise, encontra-se formalmente confortável, mas à beira do abismo, na prática. O que está acontecendo na América Latina mostra que nem todos os bajuladores, nem todo o dinheiro, nem todas as armas e nem todos os assassinatos políticos cometidos pela esquerda podem salvar um regime socialista, como não salvaram na Europa Oriental. Os acontecimentos dos próximos anos poderão dar mais um testemunho de que a "utopia" prometida por estes regimes não vive, simplesmente porque é incompatível com a natureza humana. O que a implantação forçada - e por vezes violenta - do modelo faz é: criar desilusão, sofrimento, morte e, por fim, sua própria destruição e infâmia. Que os brasileiros possam se ver livres desse mal que já ceifou tantas vidas, em breve. 


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