quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Olavo tem razão (quando o assunto são os palavrões)

Olavo de Carvalho é um autor que desperta o ódio em inúmeros brasileiros, e admiração em muitos outros. A polêmica é um de seus maiores talentos, e não é sem motivo - em uma época na qual é tão difícil poder expressar-se francamente sobre tantos assuntos. Falar do islamismo é tabu - ainda que a maioria das pessoas que usam a expressão "islamofóbico" saiba absolutamente nada sobre a tradição islâmica ou Muhammad-, falar da militância "sex-lib" é tabu (ainda que a maioria das pessoas que usam a expressão "homofóbico" não saiba de onde vem o dinheiro para os partidos do modelo "PSOL")- falar de liberdade individual é tabu, porque pensar de forma independente tornou-se tabu: é necessário agradar aos pobres idiotas que raramente ouvem algo além de música pasteurizada, seja ela Funk, Techno ou Black Metal, ou decidem se arriscar a ler algo com um pouco mais de substância do que os best-sellers sobre fantasias sexuais juvenis. Boa parte da fúria criada pelo autor vem, conforme seus detratores, dos palavrões - exatamente de sua recusa em afagar quem merece uns bons tabefes.
Imagem: http://goo.gl/b20QBA

Nenhuma surpresa - uma geração acostumada a se agradar no conforto da televisão ou a demolir sua própria personalidade em temas absolutamente irrelevantes nunca estará preparada a ouvir algo que não quer. A auto-bajuação compulsiva oferecida pelas campanhas de "não há melhor ou pior" - o consumo repetitivo, efetivamente masturbatório, de produtos que só podem ser descritos como lixo - decompôs a inteligência da geração que critica Olavo, e de seus antecessores espirituais, educados pela onda de estupidificação que nasceu com os movimentos "lib" da década de 1960. O que deveriam ser movimentos de libertação individual se tornaram imensas explosões de imbecilização coletiva; a crítica da arte literalmente elevou a cânone o medíocre, o feio, o horrível, e demoliu qualquer possibilidade de busca bela beleza, harmonia e crescimento nos que se entregaram ao movimento. Mesmo algumas alas da esquerda passaram a ter nojo da modernidade - não é sem motivo que a onda conservadora do final do século XX seja formada essencialmente por ex-comunistas. As nações nas quais o marxismo se fez religião de Estado acabaram se tornando bastiões do conservadorismo e da antiquação estética - provavelmente uma resposta assustada ao que se passou com a "revolução sexual" no outro lado do muro. Os secretários-gerais devem ter pensado: "Isso vai vir para cá com o 'lib'? Não mesmo". Olavo viu tudo isso acontecer, enquanto ainda era militante comunista. Percebeu toda a degeneração moral da revolução, e buscou se aprimorar, distanciando-se do movimento que Tchernichevski comparou à própria tentação do poder, no deserto. Sua crítica feroz, sua linguagem quase maligna tem precisamente o objetivo de tirar quem ouve seus programas de rádio no extinto True Outspeak do torpor auto-complacente. É como uma tentativa de dar uns bons tapas no imbecil em êxtase, na vã esperança de que ele acorde.

A função dos palavrões no antigo programa de rádio é rigorosamente a das gárgulas nas antigas igrejas medievais. Por um lado, espantar os "espíritos malignos": espantar os idiotas que embarcam em qualquer grupo com o objetivo puro e simples de difamar e espalhar veneno - gesto inúmeras vezes motivado por uma aguda consciência de incapacidade ou mediocridade. Demolindo o vizinho, o medíocre se sente mais relevante. Difamando secretamente, o sujeito que o faz passa a se igualar (em sua fantasia) ao criticado; passa a se ver como alguém que possui qualidades faltantes no objeto do comentário. Olavo xinga o máximo que possa para que esses indivíduos fiquem bem longe do conhecimento que ele tem a oferecer - graças a este método, o verme ficará, pelo resto de seus dias, bem distante das obras de Frankl, Szondi ou Voegelin; jamais tocará um único tomo de Carpeaux, e provavelmente nunca saberá o que é "paralaxe", muito menos saberá o que acontece quando alguém possui uma visão da realidade que não corresponde com a sua real existência no mundo, ou a que fenômenos culturais e grandes tendências políticas na História estas concepções estão ligadas. Olavo xinga, xinga de verdade, diante de qualquer detrator. O professor ensina seus alunos a não terem medo do confronto -  não do confronto velado, dos difamadores e das velhinhas fofoqueiras, mas do confronto aberto, da disputa impiedosa e, o que é o mais importante, verdadeira, com todas as cartas na mesa. Não há artimanhas no debate de Olavo de Carvalho, há ataques letais, disparos da arma mais letal existente no mundo: a realidade, como ela é, crua e inquestionável.

O xingamento possui uma função muito específica no trabalho do filósofo: a de filtro. Quando xinga um criminoso, o faz com propriedade porque seus alvos em geral merecem o expediente (e Olavo pede mil perdões às pobres mães dos idiotas, ainda que, por vezes, elas mesmas iriam concordar com as reprimendas). Em outras ocasiões, os xingamentos apenas correspondem à realidade objetiva - aliás, nessas ocasiões não são sequer xingamentos, são descrições - quando Olavo diz que alguém é um assassino, é porque é mesmo. Quando o homem xinga um comentarista impetuoso, que faz uma crítica errônea - e dificilmente as críticas feitas ao professor correspondem à realidade do que ele pensa ou faz -, ele usa a linguagem grosseira para "limpar" a audiência: apenas aqueles que realmente querem aprender alguma coisa terão paciência para ouvir as ofensas. Quem puder perceber a diferença poderá tirar uma ou outra lição valiosa, como inúmeros já fizeram (Constantino em pessoa já teve de ouvir muitas, e acabou voltando a se corresponder pacificamente com o filósofo - fica evidente que o colunista pescou uma ou outra informação sobre a nova esquerda com Olavo). 

O autor brasileiro está montado na razão quado xinga. O público deste país se tornou muito frouxo com a mentalidade dominante - muito tolerante para com a mediocridade, muito simpático ao lixo e à fraqueza moral, muito benevolente para quem merece, na melhor das hipóteses, um tiro na nuca, à melhor moda Leninista. Os xingamentos de Olavo de Carvalho são pouco para o que a chamada "classe pensante" brasileira merece passar: os profissionais da grande mídia e a vasta maioria dos "artistas" precisam de umas boas chibatadas; o movimento conservador faz de tudo para ser jogado no Gulag ou na cova coletiva - aliás, se ainda não conseguiram essa recompensa foi apenas por relativa falta de competência e disciplina dos partidos comunistas. A história mostra que a tolerância para com o totalitarismo, a fraqueza, a indisciplina e até mesmo a simpatia para com a perversão moral terminam em tragédia para um povo, e situação presente é culpa de quem deveria estar lutando contra o movimento que mais ceifou vidas humanas no século XX. A deficiência moral da elite do país levou o Partido dos Trabalhadores e o Foro de São Paulo ao poder - a força que representa os maiores assassinos do continente, as FARC. Neste momento, cada militante conservador estaria de joelhos, com um fuzil enconstado na nuca, se um único dos Partidos Comunistas do Brasil tivesse um décimo da energia demonstrada por um estrategista como Vladimir Lenin - a bem da verdade, é exatamente isso que alguns idiotas entre os conservadores e liberais deveriam ter tido, e nenhuma dessas mortes seria uma perda para o país. A autopiedade apenas leva ao fracasso. Quando o escritor xinga, o faz para não bater, e não estaria errado se assim procedesse. Mas palavrões são o suficiente - quando se chuta a quina de uma cadeira, dizer "porra" é o bastante, não é necessário torturar a pobre peça de mobília. E é por isso que, também neste ponto, Olavo tem razão. 




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