domingo, 31 de janeiro de 2016

O erro de Reinaldo Azevedo sobre Bolsonaro

Reinaldo Azevedo é um colunista conservador que, sem sombra de dúvidas, fez muito pelo movimento de oposição ao partido dos trabalhadores. Não há dúvida a respeito de sua capacidade intelectual ou da firmeza de suas convicções sobre o sistema totalitário em gestação, desenhado pela esquerda brasileira. O problema do jornalista - e de muitos na direita brasileira, aliás - é a interpretação estritamente ideológica de um problema objetivo. Quando Reinaldo avalia Jair Bolsonaro como pré-candidato à presidência, quem fala mais alto na consciência do colunista da revista Veja é a "doença" intelectual já conhecida: as características tão bem descritas por Eric Voegelin e Russell Kirk parecem gritar, em cada frase do sujeito - a "proibição do questionamento", a incapacidade de avaliação objetiva de um dado da realidade e o apego desesperado aos dogmas que prometem o "paraíso futuro". Quando Reinaldo Azevedo fala a respeito do que deseja trazer à sociedade com as ideias que divulga, o público fica diante de mais um dos "profetas" do paraíso metastático - Reinaldo acredita no "socialismo da apple", no paraíso que pode nascer do livre-mercado, ou na sociedade perfeita fundada pelos ideais da democracia. É, mais uma vez, a pretensão gnóstica de refazer o mundo de cima a baixo com a pequena lista de axiomas ideológicos, aquela mesma lista que se enraiza no cérebro do analista e o faz ver Bolsonaro como "um fascista", "um golpista". Que algumas palavras sejam ditas a respeito do militar.
Bolsonaro: não é um gênio da política ou da filosofia, mas é
quem irá tirar o poder do PT
Imagem: http://goo.gl/k5r1jk

Jair Bolsonaro não é um pensador político, longe disso. Nenhum dos entusiastas do sujeito disse tal coisa, jamais. Bolsonaro sequer é um sujeito particularmente inteligente - se o fosse, nem por um segundo iria cometer a quantidade de erros estratégicos que cometeu ao longo de sua vida, e não iria depender de um movimento social e político essencialmente erguido pelo autor - esse, de fato, um filósofo, um grande pensador, poliglota e autodidata - Olavo de Carvalho. Sem o vasto movimento político que sacode a nação, criado do zero por Olavo, em um trabalho que foi da divulgação dos autores principais do conservadorismo até a articulação de lideranças políticas, como Van Hattem, Paulo Eduardo Martins, Hermes Rodrigues Nery e outros, Bolsonaro seria absolutamente nada. O movimento "bolsonarista" nunca consiguiria uma única vitória - só o vez no terreno conquistado previamente por Olavo de Carvalho, que foi o precursor de uma onda conservadora que mudou a paisagem intelectual brasileira, da literatura, passando pela comédia e chegando aos meios de comunicação jornalísticos, como as obras-primas que são o Mídia Sem Máscara e a Rádio Vox. Tudo isso foi possível ao trabalho feito desde o início da década de 1990 pelo escritor e pensador, não pelo militar de corte de cabelo esquisito "descoberto" pelo público depois de falar algumas verdades para a sub-celebridade do movimento gay ou para a senhora Maria do Rosário. A escolha de Bolsonaro não é por seu mérito, intelecto, obra escrita, legado cultural para a nação (que é, absolutamente, nenhum) ou mesmo por seu discurso caricato - há outros muito capazes de falar da mesma forma, como visto na última eleição. A decisão de votar no militar se deve apenas à preferência popular por ele: o público o quer como presidente porque entende Bolsonaro como a antítese do PT, e apenas isso.

Bolsonaro conseguiu destaque não por falar sem ter medo de ofender as sensibilidades esquerdistas - um dos candidatos do último pleito fazia precisamente isso, o senhor Joaquim Levy. Todavia, Bolsonaro representa, para o povo, o "anti-Lula". É um indivíduo intelectualmente mediano, mas que tem um nojo sincero pela esquerda, e fala como Lula falaria, da forma que a população entende. O candidato não conhece meias-palavras - ataca sem medo, mostra os fatos, descreve a verdade como ela é. Parece estar livre de um histórico de corrupção, é visto até por personalidades como Joaquim Barbosa como um dos poucos políticos honestos. Essas características, que seriam "normais" em quaquer outra nação, são uma raridade no brasil - Bolsonaro não será eleito por ser um gênio ou um santo, será eleito porque simplesmente possui aquela mediocridade "saudável" para qualquer país normal. No Brasil, nação de 60.000 homicídios anuais governado por assassinos, traficantes de drogas e - literalmente - por uma assaltante de bancos, isso é "muita coisa". A "normalidade" e o ódio justificado transformaram Bolsonaro em um herói nacional, e é precisamente por essa razão que o voto deve ser dele, para a presidência. A ideologia jogou Reinaldo Azevedo em um mundo de perfeição abstrata, na adequação onírica aos moldes dos dogmas que ele agora esposa como o caminho infalível para o futuro. Reinaldo deixou a loucura trotskista para entrar em sua própria versão da loucura que ele pensa ser o mais perfeito retrato do liberalismo ou do conservadorismo clássico - o ex-comunista não poderia estar mais enganado.

Reinaldo Azevedo assume, e isso pode ser inferido através de suas afirmações, que "os valores da democracia brasileira são invioláveis" e que "a questão do casamento homossexual deve ser deixada de lado". De fato, a democracia é sempre desejável, no que diz respeito ao primeiro dogma, o que não significa que Bolsonaro seja contrário ao pleito ou mesmo que pretenda instituir sua própria versão da ditadura militar - longe disso. Por mais tolo que o pré-candidato seja, ele pretende, como todo político, concorrer normalmente. Ele não "articula os quartéis" para tomar o poder ilegalmente - se ele conseguir a presidência, será pelo voto. Nunca, apenas na cabeça de Azevedo, houve tais planos entre os eleitores de bolsonaro - nem mesmo o próprio Bolsonaro parece ter qualquer tipo de auto-ilusão a respeito de vencer por qualquer caminho que não seja a urna. Sobre o segundo ponto: e por que diabos um candidato conservador deveria concordar com o casamento gay? O conservadorismo de Reinaldo Azevedo não passa da ideologia socialista travestida de liberalismo econômico, que, por alguma razão, faz o colunista pensar que merece o rótulo de "conservador". Isso não é e nunca vai ser, no Brasil ou onde quer que seja, conservadorismo: isso é apenas a boa e velha tara ideológica - a obsessão agora é com a cartilha "libertarian", chamada por outro nome. E se Bolsonaro quiser se opor ao casamento gay? Não é o Brasil um país de maioria cristã? Por acaso todas as nações do Ocidente devem permitir a união de pessoas do mesmo sexo para serem consideradas democráticas? Se Azevedo não percebeu o ranço totalitário e irracionalista do novo conjunto de dogmas, o problema é dele. O fato é que, tanto quanto o marxismo, a "ideologia" travestida de "liberalismo" prejudica com a mesma intensidade a avaliação objetiva da realidade. Se a população é contra tal ou qual forma de associação ou de lei, não importa qual seja sua fantasia política - ela não será realidade. Se o único candidato capaz de vencer o totalitarismo petista é um militar sem um horizonte intelectual respeitável, essa é a realidade com a qual o analista deve lidar, e não um quadro idílico por Reinaldo sonhado, tira suspiros do marxista convertido aos brilhantes ideais da liberdade econômica.

Ninguém na direita irá acusar Reinaldo Azevedo de "traição", não creio que seja este o problema. O cacoete mental da ideologia é extremamente complexo: entre os defensores da intervenção americana no Oriente Médio havia ex-integrantes de movimentos comunistas. O sonho de uma "sociedade sem classes" perfeita, na cornucópia do comunismo, na qual os homens poderão "pescar pela manhã" e "trabalhar nas fábricas" à tarde, facilmente se transforma no sonho da "sociedade capitalista perfeita", com liberdade quase absoluta, com abundância inominável de todos os bens, em democracia tão perfeita que faria um nó na mais imaginativa alma entre os iluministas radicais. O que o colunista deve fazer - como devem também fazer todos os outros direitistas, conservadores, liberais ou apenas anticomunistas do Brasil - é avaliar a realidade como ela é, e não deixar-se enganar pela cegueira ideológica. Não há santos no Brasil e Bolsonaro deverá ser criticado até a sepultura, uma vez que tenha feito seu trabalho de tirar o poder do lulismo. Até lá, apesar de não haver um movimento formidavelmente capaz ou mesmo qualquer certeza de sua vitória, apenas uma tênue esperança, o movimento de oposição deve usá-lo para derrotar e humilhar o Partido dos Trabalhadores.

2 comentários:

  1. Não seja tolinhos sr tucano idéia! Não é o que Bolsonaro diz, é o que ele é. Lula e o PT já são defuntos políticos. Só não foram enterrados de vez porque não interessa ao starus quo corrapto e globalistas do psdb pmdb globo e judiciario. 2018 aperte Bolsonaro na cabeça !

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    1. Marcelo, este site apóia Bolsonaro. Em momento algum falamos aqui que ele é um mau candidato - a opinião que defendemos é que ele é o melhor voto possível para conservadores e liberais, como você pode ver no link a seguir: https://opiniaoadireita.blogspot.com.br/2017/11/bolsonaro-e-o-melhor-candidato-para.html

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