quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Yuri Bezmenov - Por que o vigor intelectual é uma questão de vida ou morte

A leitura das obras de Antonio Gramsci dá uma boa perspectiva do que é a aplicação da estratégia marxista nos mínimos detalhes da vida civilizada - no volume segundo dos Cadernos do Carcere, o socialista italiano sugere a importância da interferência direta nas escolas, para a aplicação das "estratégias de longo prazo" que vira como necessidades, ainda em seus escritos políticos nos anos de liberdade. Gramsci realiza um trabalho magnífico de estudo dos mais diversos assuntos e da edificação de um programa estratégico coerente, sobre camadas e camadas de análise de problemas muito concretos. Ainda que seus livros tenham um valor inestimável para estudantes do marxismo - sejam eles marxistas, "marxianos" ou marxólogos, conforme a distinção de Aron - simpáticos ou contrários à causa (como o autor destas linhas), Gramsci acaba por encolher formidavelmente diante dos autores que serviram diretamente ao projeto marxista. Pela própria natureza de seus escritos - estratégicos, de discussão de medidas reais a tomar para a conquista do poder - Gramsci é fraco como uma brisa diante dos verdadeiros soldados do sistema soviético, sejam eles homens do exército vermelho ou dos "órgãos". É por esta razão que Yuri Bezmenov brilha formidavelmente diante do teórico - aquilo que Gramsci apenas sonhou, diante do fracasso, Bezmenov fez com suas próprias mãos, viu, percebeu e entendeu in loco. 
Yuri Bezmenov na Índia: foi designado para investigar
hábitos de jovens de classe média americana sobre
"religiões asiáticas", meditação e consumo de drogas
Imagem: http://goo.gl/Q7ymLm

Bezmenov, como Suvorov e Volkogonov - respectivamente, integrantes do KGB, GRU (Inteligência Militar Soviética) e Exército Vermelho -, tornou-se crítico feroz do comunismo, em grande medida pelo sofrimento que o sistema soviético impôs não ao próprio agente desiludido, mas a seu povo e a outras nações, gradualmente conspurcadas pela imundície da ideologia leninista. Bezmenov foi, sem saber, uma engrenagem na máquina elaborada por Antonio Gramsci, a qual curiosamente só começaria a funcionar após o fim da vida de seu idealizador. Dentro do aparato de propaganda, Bezmenov atuou como agente, na Índia, e auxiliou em golpes de Estado que levaram serviçais do sistema soviético ao poder na Ásia. Ele entendeu que a missão dos cidadãos soviéticos designados para operações nas nações do terceiro mundo não era "libertar" ninguém do imperialismo - era apenas marcar os nomes daqueles que deveriam morrer na revolução. Era, além disso, tornar as futuras vítimas tão frágeis quanto possíveis - para isso, a arma empregada era a destruição de qualquer conhecimento ou hábito de valor nos objetos da conquista, em escala muito mais ousada do que a sugerida pelo antigo líder do PCI.

Um aspecto que chama atenção nos escritos de Suvorov e Bezmenov é a ênfase em coisas que parecem pouco significativas para "o advento do comunismo", como a "meditação" sobre a qual Bezmenov discute, em uma de suas palestras, ou a identificação de indivíduos que tenham o hábito de contratar serviços de prostitutas, ou mesmo de pessoas que sejam homossexuais - como registrado na obra "A Inteligência Militar Soviética". O ponto é que, para a estratégia de desmoralização - que vai muito além das "reformas educacionais" ou da "guerra de posição" - duas coisas aparentemente irrelevantes são, na realidade, muito necessárias: uma, que desempenha papel nos estágios posteriores à desmoralização em si, é o "mapeamento" de uma sociedade. O projeto marxista-leninista não pode se contentar apenas em tomar os órgãos formais de poder - é necessário ter o poder até mesmo sobre os criminosos mais pérfidos, ou, caso seja necessário, saber seus nomes e tudo o que for possível sobre suas vidas, para que o esforço necessário em seu extermínio seja o menor possível. Os agentes que realizam a desmoralização precisam saber quem são os indivíduos vulneráveis à chantagem e à ameaça, os indivíduos sem escrúpulos, dispostos a tudo por poder ou recursos - as pessoas com desvios sexuais mais gritantes, os que contratam ou estão ligados a prostitutas, os traficantes e os simplesmente gananciosos o suficiente, todos esses são sempre colocados entre as "prioridades" na sondagem do ator da campanha de sabotagem. Ao mesmo tempo em que a URSS mantinha o maior número desses indivíduos em uma proximidade útil, financiava uma estrutura colossal na promoção de tudo o que fosse inútil e nocivo para as capacidades intelectuais e até mesmo físicas dos ocidentais. A atuação dos partidos comunistas colombiano e cubano neste sentido é importante, como é discutido no livro "Red Cocaine", mas o exemplo dado por Bezmenov, sobre o estudo da meditação, é simplesmente notável.

Ion Mihai Pacepa - na companhia de nomes como Olavo de Carvalho e Ronald Rychlak - já discutiram amplamente sobre o papel desempenhado pela chamada "Teologia da Libertação" na destruição da religião cristã. A instrumentalização do catolicismo, com a finalidade óbvia de substituir a doutrina religiosa pelo pensamento marxista, fica clara através da observação das ligações políticas dos líderes do movimento, ou ainda através de seu discurso de classes, e a mais recente substituição da fé cristã pela crença em "Gaia" - no discurso do mais famoso apóstata brasileiro - tira qualquer dúvida a respeito da finalidade patológica do empreendimento socialista na religião. Bezmenov traz mais um capítulo dessa incursão do marxismo no espírito, com sua exposição do uso da religiosidade oriental - e das fraudes que se vendem como parte dela. O que o jornalista viu na Índia foi, com as filhas jovens  e incultas de americanos tolos o bastante para pensar que a contracultura fosse apenas um capricho da época, rigorosamente o mesmo que a Teologia da Libertação faz com a beutiful people brasileira - de fato, não é apenas a elite que foi varrida pela falsa religião instrumentalizada pelo socialismo: os mais pobres são submetidos pela horda de falsas igrejas protestantes simpáticas ao esquema petista, mais notoriamente, a seita do auto-intitulado "bispo" Edir Macedo. O discurso da falsa religião pregada aos adolescentes estúpidos no oriente, que não fala da realidade, apenas da "paz" ou do "equilíbrio interior" é exatamente o mesmo tipo de lixo consumido às toneladas neste lado do globo, mas na forma de literatura de psicologia pop ou na conversa mansa dos líderes religiosos "pelos mais pobres". Yuri Bezmenov rapidamente entendeu seu papel na máquina de demolição civilizacional marxista, e deixa muito claro o que se passava - ele teve o melhor dos treinamentos militares e intelectuais, tornou-se um homem versado em muitos idiomas e com uma capacidade de expressão formidável. Possuía a capacidade física de um atleta, e treinamento militar de qualidade. Cada um desses elementos foi assegurado pelo Estado Soviético em sua formação por uma razão muito simples: a razão de ser do cidadão socialista é a expansão do sistema e a gradual conquista dos vizinhos ainda não "coletivizados". As escolas russas, até os dias de hoje, fornecem treinamento militar básico, em tradição que remonta à década de 1930 - talvez vá ainda mais longe. Ao mesmo tempo em que o sistema fazia de tudo para formar cidadãos-soldados, todo o esforço de inteligência e propaganda era destinado à demolir a vitalidade, a moral e a inteligência do adversário - e este propósito foi alcançado com sucesso. A decadência visível das letras nos países ocidentais, assim como o horror da música contemporânea, dão testemunho do sucesso desta verdadeira agressão geracional. O que Gramsci apenas sugere é um átomo do que Bezmenov fez, ainda que na modesta condição de "fundionário" da máquina, ou do que ele viu. Ao italiano, naturalmente, vai o "crédito" pelo projeto, mas o ator russo é mais didático: Bezmenov não fala discretamente. Os exemplos são tragicamente óbvios, imediatos tangíveis, e seu impacto é sentido sem qualquer atenção especial.

O mais importante nas poucas palavras deixadas por Bezmenov aos indivíduos que lutam por uma sociedade "humana e normal", nos termos que ele coloca, é o aviso : o projeto leninista se baseia em permitir que o inimigo de devore por dentro. A conquista da revolução é sempre sobre uma carcaça podre - Lenin, o maior estrategista que a humanidade já viu, fundador de um modelo de partido copiado por homens que não de Saddam Hussein a Adolf Hitler, entendia muito isso bem. As armas com as quais Lenin edificou o poder soviético não foram "os trabalhadores e os camponeses" - foram os ricos degenerados, os traficantes, assasinos, pervertidos, nobres decaídos - como Dzerzhinski -, foram a gradual queda da Rússia na violência e no crime. A arma com a qual Lenin manteve o poder, depois de conquistado, foi a disciplina feroz. A proteção que Bezmenov oferece contra o bolchevismo é algo muito mais fácil de se alcançar do que o "comunismo de guerra". É, pura e simplesmente, o foco nas coisas úteis, produtivas, pragmáticas. O estudo sincero da realidade e da natureza dos problemas enfrentados pela sociedade. É, também, chamar as coisas pelos nomes, chamar os inimigos de inimigos. Yuri Bezmenov apela para que os ocidentais permaneçam fiéis às suas tradições milenares - não importa quais sejam -, pede que mantenham-se alertas e evitem o distanciamento do mundo real através de distrações pueris, autoengano ou prazer egocênrico descontrolado. A mensagem que o autor russo deixa é muito simples: enquanto o Ocidente se desfaz em lama, seus inimigos crescem em astúcia e força. A paz, como diz o ditado romano, é a preparação para a guerra.

Vídeo: Yuri Bezmenov sobre sua atuação na Índia, sobre as seitas "new age" e sobre a subversão



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