sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Sobrevivendo à guerra cultural

Um autor conservador americano comparou a média da humanidade "pós-moderna" com insetos - mas especificamente, disse que é difícil encontrar, nos dias de hoje, pessoas com curiosidade intelectual um pouco maior do que a de um escaravelho (popularmente conhecido como "dung beetle"). A comparação é muito justa - a maioria dos hominídeos atuais chafurda na sueira da cultura industrial, que cospe e mastiga, dia após dia, o mesmo lixo, que, por razões desconhecidas, convencionamos chamar de "música pop", "best-sellers", "funk", "hip-hop" e outras pérolas de qualidade duvidosa. Dizer que há alta cultura e classificar a imundície como, digamos, imundície, tornou-se ofensa mortal. Vez ou outra podemos encontrar seres humanos normais, que reconhecem a sujeira quando seus sentidos são alcançados por ela - eles são o tesouro mais valioso que um conservador pode manter junto a si.

A expressão idem velle, idem nolle dá conta da necessidade mais urgente na vida social - a proximidade só pode ser mantida com a humanidade normal. O amor fraternal, a amizade verdadeira, só deve existir com quem vale a pena. A proximidade entre irmãos deve ser valorizada enquanto os mesmos valores são buscados, enquanto a mesma concepção de vida e de mundo for compartilhada, para o bem comum e para o cultivo contínuo da personalidade. A humanidade perdida afunda na desgraça - "let God sort them", os idiotas vão virar pó na eternidade, é hora de se apegar apenas às pessoas que querem algo mais do que a degeneração completa. Sempre que o conservador encontra uma das pessoas que não têm medo da verdade, que continuam com uma percepção normal, não atingida pela patocracia, pela loucura, pela histeria apocalíptica e que ainda não possuem o ódio gnóstico queimando seus poucos neurônios, é hora de segurar a amizade do vizinho como se fosse a coisa mais preciosa do mundo - e, de fato, é. Em um mundo onde tudo conspira para o fim, onde todos correm desesperadamente em direção à catástrofe e à morte, essas pessoas são um porto seguro. Querer as mesmas coisas, amar as mesmas coisas e odiar as mesmas coisas, em tempo de guerra, é sinal de que a proximidade vale a pena.

Infelizmente, para esse tipo de situação, não é possível cultivar sentimentalismo nas relações interpessoais. Nem todos terão salvação - é preciso rezar por todas as almas, mas a proximidade em demasia com quem quer a desgraça acima de tudo é estar perigosamente próximo à zona de impacto da chuva de sofrimento. As amizades são como um alicerce, e são parte do esforço necessário para a manutenção de uma vida intelectual razoável. Os idiotas, na expressão do professor, não entendem e não querem entender. Eles estão imersos demais em sua doença, em seu auto-louvor permanente, eu seu culto à glórias e inustiças auto-edificantes imaginárias para que tenham tempo ou força para ver a realidade como ela é. Não é possível perder tempo, durante a crise. Reze por cada um deles, mas faça o que estiver ao seu alcance para manter sua saúde e para salvar sua alma, porque a doença deles pode, muito facilmente, destruir as duas.

Algumas poucas exceções são dignas de menção: há, entre a horda furiosa, pessoas que possuem alguma paciência para ouvir. Se, ao toque da trombeta, a personagem ao menos se der ao trabalho de permanecer quieta e escutar, é um bom sinal. Pode ser que haja chances de cura. A patocracia não é invencível e a histeria morre como um verme, quando sob a luz da verdade. A burrice, a boa e velha burrice que mata economistas marxistas de fome e que leva militantes sex-lib para o cadafalso islâmico é uma barreira psicológica relativamente frágil, quando ainda resta normalidade entre os blocos de pensameto metonímico gnóstico. Em toda alma ardente de orgulho e ódio contra a existência, resta algum fiapo de esperança, que, se o proprietário assim permitir, pode ser usado a favor do quase-condenado. Se houver algum interesse sincero, alguma vontade de aprender, pode-se jogar a semente - caso dê certo, pode ser que venha à luz mais um vínculo precioso. As chances são mínimas, ainda assim, acontece.

Como foi dito inúmeras vezes pelo sobrevivente, a única salvação do Ocidente é o estudo e a alta cultura. Para o mundo das amizades, vale a mesma máxima. Não ha diálogo possível com o lixo. Um irmão de causa não pode cultuar a decadência e a perdição. Se o objetivo é fazer um voto, então que seja: "crie um círculo de pessoas normais, com interesses humanos saudáveis, com uma conduta humana exatamente como a que deveria haver neste país e que á existiu entre nossos antepassados. Fujam do mundo moderno, ainda que vocês apenas sejam capazes de fazer isso em casa ou em um pequeno círculo de amigos leais". Amar as mesmas coisas e odiar o mesmo inimigo são os primeiros passos para arregimentar um exército, e são a mais básica estratégia para sobreviver à guerra. Todas as tiranias da História caíram miseravelmente - o que faz desse combate uma luta de resistência, que, em última análise, pode ser muito fácil de vencer.

Mais sobre o tema - Olavo de Carvalho fala sobre a guerra cultural:

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