quinta-feira, 15 de junho de 2017

"O Jardim das Aflições" é mais do que a esquerda pode entender

Ler Olavo de Carvalho é como folhear uma enciclopédia - a vastidão dos conhecimentos do filósofo pode oferecer um desafio significativo até mesmo para pessoas interessadas por temas como política ou filosofia. No Brasil, onde as referências são escassas e escolhidas conforme os estreitos (e pobres) padrões da esquerda acadêmica, o ato é ainda mais difícil - há pouco tempo, as livrarias nacionais conheceram nomes como Eric Voegelin e Viktor Frankl. Outros, como Szondi, nem sequer aparecem  em notas de rodapé. Para entender a obra do escritor brasileiro, é preciso estudar, e estudar muito. O estupor observado nas críticas sobre o filme de Josias Teófilo dá testemunho da distância colossal entre as proporções do conhecimento de Olavo e as dos miseráveis cérebros adestrados em nossos cursos de humanidades. Os militantes de esquerda não entendem as mutações que ocorrem em suas próprias fileiras, nos centros de poder que produzem sua ideologia, no país e muito menos são capazes de entender os atos e palavras do escritor que está mudando dramaticamente a topografia intelectual do Brasil.

A guerra cultural tomou velocidade, está provocando mutações enormes na imprensa (especificamente, nos veículos alternativos), em veículos de comunicação de massa, no mercado editorial e mesmo na academia. Há uma década, não havia conservadorismo no Brasil. Hoje, este é o movimento político e cultural que ameaça severamente a hegemonia marxista. Há dezenas de livros conservadores em circulação - e fazendo sucesso - enquanto a esquerda apodrece e empobrece. Curiosamente, alguns dos mais importantes livros socialistas estão sendo publicados por conservadores (e por eles estão sendo lidos), para seguir a orientação ancestral de Sun Tzu: "se você conhece a si mesmo e conhece o inimigo, não precisa temer o resultado de cem batalhas". Este esforço começou com o gigantesco trabalho de Olavo, que continua através da editora Vide, e de outras que divulgam novos e antigos nomes do conservadorismo internacional. A esquerda moderna odeia o conhecimento - como Voegelin mostrou muito bem, o gnosticismo tende ao anti-intelectualismo. Sendo fiel ao princípio, os marxistas brasileiros não se dão ao trabalho de ler, nem os próprios autores socialistas - é evidente que o movimento fará de tudo para se manter distante dos textos de seus adversários. A escolha pela ignorância está matando a esquerda, e explica a reação obtusa (até mesmo cômica) diante do filme "O Jardim das Aflições".

Quando Olavo faz menção ao totalitarismo estrutural do pensamento marxista brasileiro, os militantes demonstram escândalo. Gramsci foi o Stalin dos livros, o Vozhd do espírito. A resposta ao filme de Josias Teófilo prova que o pofessor tem razão: foi "o livro que não devia existir". Se os gramscistas tivessem o poder que tanto desejam, podemos ter certeza de que a obra não existiria. O controle do discurso, das publicações e das telas é o sonho dourado do movimento - é aquilo que Lenin conseguiu, mas que os socialistas brasileiros são fracos demais para fazer. A conduta, todavia, mostra o quanto a corja está distante da realidade (mesmo do que seria a conduta normal de um censor), e o quanto são incapazes de compreender um filme que poderia até mesmo ser visto como favorável à visão de ao menos uma das correntes da esquerda - para ser mais específico, ao anarquismo de, digamos, um Mário Ferreira dos Santos, admirado por Olavo de Carvalho e odiado pelos marxistas. A esquerda não entende que nem toda a obra que não faz adulação incansável a suas lendas deve ser proibida - não entende que um filme pode falar sobre Filosofia sem vestir a camisa de força da luta de classes, ou pode tecer uma crítica ao Estado moderno sem necessariamente usar os chavões dos "quadros". Os militantes perderam a capacidade de entender um filme brasileiro que - pasmem - não é uma pornochanchada global na qual metade do tempo é dedicada a cenas de sexo, e a outra metade ao que há de mais ridículo e sem gosto nas piadas que a dramaturgia pode criar. Olavo não fala sobre os "temas proibidos", não fala sobre "safe spaces" e companhia. Fala sobre o centro de sua Filosofia - a contrução - e aperfeiçoamento -  da personalidade humana. Os militantes do fascismo moderno mostraram, em suas linhas da Folha e nos outros "grandes veículos", que já transcenderam a inépcia na escrita, e alcançaram o ápice da incapacidade sensorial. A paralaxe cognitiva já se tornou remoção cirúrgica de olhos, ouvidos e - por que não? - cérebro.

Para entender Olavo de Carvalho, é preciso entender, em primeiro lugar, as referências do autor. Criticar o filósofo sem conhecer Eric Voegelin é estupidez. É evidente que este é apenas um dos que influenciaram o pensamento do escritor, mas é um começo - ao menos para alguma discussão a respeito do movimento revolucionário, da paralaxe cognitiva (incluindo a distorção no entendimento a escatologia e do tempo, característica distintiva do marxismo). Nomes da Psicologia e grandes romancistas também entram nas leituras obrigatórias - a maioria dos militantes não é capaz de entender os dilemas colocados por Dostoiévski, ou de perceber que há algo na existência humana para além da camada 4. Para iniciar qualquer diálogo com um mínimo de compreensão, o gnóstico vai precisar de muito conhecimento. Com certeza, se o coitado não entender do que se trata, o filme tomará a aparência de "um filme sobre Olavo".

A formação da personalidade, o entendimento da realidade e o trabalho de desenvolvimento intelectual, como via para uma existência melhor, são elementos centrais da Filosofia de Olavo de Carvalho. A crítica do totalitarismo e do gnosticismo moderno são apenas partes (pequenas, até) dos estudos do autor. A melhoria de cada aspecto, de cada nível da alma do indivíduo é o trabalho que realmente importa - o conhecimento é apenas o caminho para "a unidade da obra". O livro "O Jardim das Aflições" é uma leitura difícil, enciclopédica. O filme de Josias Teófilo não poderia ser diferente - não é uma sinfonia para qualquer idiota - em especial, não é para os animais criados nos currais que convencionamos chamar de universidades, no Brasil. É um filme para pessoas que, de fato, querem aprimorar suas personalidades, através de um melhor entendimento da realidade. Seguramente, é o melhor filme brasileiro, em décadas.

Mais sobre o tema - entrevista sobre O Jardim das Aflições, de Josias Teófilo:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...