segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Calheiros e a metamorfose do público

O Brasil mudou. Isto não tem absolutamente nada a ver com a demagogia petista, não diz respeito às afirmações presunçosas dos últimos governantes. É apenas a consequência do processo de "despertar nacional" pelo qual o Brasil passa - as pessoas perderam o medo de expressar uma opinião, perderam o medo de afirmar suas crenças - que, invariavelmente, contradizem os dogmas da casta governante e da grande mídia - e pederam qualquer possível respeito que poderiam dedicar à burocracia. Os fatos mostraram que o Estado tupiniquim é um fracasso e uma calamidade - a lei agora é chamar os parasitas de parasitas, e todos os vermes passaram a se contorcer em desespero.

Renan Calheiros sempre se imaginou acima das críticas. Sempre se colocou "acima da tempestade", tal como uma figura olímpica, intocável, inatingível, senhor supremo do mundo brasileiro, coronel santificado dessas terras amaldiçoadas. O "dono do pedaço", um dos caras que se imaginavam "acima da lei". Passou tranquilamente por dezenas de escândalos de mais de um governo, sobreviveu à inúmeros noticiários negativos, soltou bocejos de tédio diante de críticos mordazes detendores dos megafones. O político não imaginava - como a maior parte da casta governamental - que a mídia brasileira não tem nada a ver com o povo. Que a classe jornalística é tão alienígena para o compatriota médio quanto kvass e Marusya. Agora, o senhor senador vai cair do cavalo - porque não é laçador, e muito menos cossaco. Vai, infelizmente, quebrar alguns ossos na fúria dos protestos populares. Renan Calheiros é a reencarnação de Dilma.

Em 2016, nossos compatriotas perceberam que podem derrubar um governo. Perceberam que podem colocar medo na burocracia. Perceberam que podem dar força jamais imaginada a integrantes das polícias e do Judiciário - ou aos integrantes do Judiciário que valem seus salários. O fenômeno é único na memória da política tupiniquim, e pegou a todos de surpresa - derrubou Dilma, está quase levando Lula à cadeia e agora está sedento pela destruição da carreira de Renan. Nomes que jamais se imaginaram a um passo da guilhotina já estão com o pescoço na trilha da lâmina. Lula - "o" Lula - está na mira da Lava Jato, e pode, verdadeiramente, perder o enorme poder que conseguiu através de uma das maiores militâncias políticas da América Latina. Pode perder tudo por uma singela acusação - de ter recebido dois imóveis em esquema de favorecimento ilícito. É inegável que a pressão popular foi decisiva para o caminhar dos acontecimentos, e o destino de Renan Calheiros é mais um sintoma da formidável mudança de mentalidade da população brasileira. O povo, como diria Olavo de Carvalho, finalmente tomou parte na História do Brasil. É o fim da casta burocrática e dos oligopólios estridentes ao seu redor, ao menos como tal configuração existia até ontem. O novo "homem médio brasileiro" está muito irritado, e quer sangue de políticos.

A casta política irá, sem dúvida, tentar resistir à mudança. Ninguém gosta de perder dinheiro - poder, status são tesouros intocáveis. Ainda que cada um dos atuais "inimigos públicos" consiga se livrar de acusações, é impossível negar satisfação de ver o país reagir. A nova atitude é a ofensa última contra a decadência da república, contra a pose pernóstica dos celerados que concentram toda a força tirânica que tantas vezes se voltou contra os mais fracos. O filósofo, aquele que talvez seja um dos maiores responsáveis pelo movimento das mentes saudáveis, explicou muito bem qual deve ser o tratamento dispensado à burocracia: o desrespeito sistemático, a ofensa como arma política. A queda da elite política está acontecendo nos tribunais e nas ruas - o Judiciário que é justo o faz através da cadeia, as ruas fazem através dos tomates e xingamentos. Afinal, foram os últimos, em alto e bom som, que derrubaram o governo responsável pela morte da economia nacional. Para a "revolução sanitária" na política, sabemos para onde devemos mandar nossos governantes.

Mais sobre o tema - Olavo de Carvalho discute as iniciativas de desobediência civil:

Trump é a morte da esquerda

O marxismo fracassou miseravelmente no último século - 1989 pontuou o colapso do império soviético com os slogans satíricos "trabalhadores do mundo, me perdoem", fazendo toda a justiça ao legado magnífico das esquerdas. Os sonhos milenaristas da sociedade sem classes morreram nas covas coletivas da Europa Oriental. O novíssimo sonho, o do multiculturalismo, nasceu velho, e já foi esfaqueado pelas vozes incansáveis das ruas, que pedem "Brexit", "Trump" e não têm medo de afirmar que o projeto sueco é um fracasso - nenhum esquerdista gosta de saber que a nação escandinava é a capital mundial dos estupros, graças aos gentis e humanistas "refugiados". A esquerda sofreu morte cerebral - o corpo, todavia, permanece vivo graças à generosidade dos bolsos de figuras como George Soros. Não há escritor bolchevista que possa competir com Scruton, não há autor brasileiro que possa competir com a nova geração, de Rodrigo Gurgel e companhia. Tudo o que "o movimento" fez terminou em catástrofe, e a vitória esmagadora dos movimentos de massa conservadores mostra que o único lugar para as esquerdas é a arqueologia do gnosticismo revolucionário.

A Alemanha tentou insistentemente convencer o público de que há igualdade entre as culturas. "Não há melhor ou pior". As vítimas dos estupros em massa pensam diferente - Colônia é uma cicatriz eterna, e foi um dos momentos que ajudaram a despertar a consciência para a gravidade da situação européia. Os eventos ocorridos no final de 2015 foram simbólicos - a mídia polonesa foi quem melhor retratou o que se passava. Na Dinamarca, na Áustria e na França aconteceram fatos similares. A opinião pública voltou-se contra a líder da maior economia do bloco, que agora é vista como uma das figuras mais odiadas na política do continente. A demagogia barata do igualitarismo forçado não funciona - é óbvio que algumas culturas são piores, é óbvio que o Ocidente não considera ataques em massa contra mulheres que se recusam a usar o véu algo normal. A Europa não aceita o hijab, as kefr não dobram seus joelhos para salafistas - o movimento "politicamente correto" não percebeu que já não fala em nome de qualquer grupo, além da própria elite governamental. Na Suécia, vitrine suprema das políticas da insanidade, um dos mais famosos críticos do "politicamente correto" é, precisamente, um imigrante - e que nasceu em um país de maioria religiosa maometana. O que se vê no noticiário sobre a violência sexual na Europa é a tragédia da queda de toda uma geração de pensadores e de partidos políticos, tão distantes da realidade que se tornaram um risco para as pessoas saudáveis (e para os próprios esquerdistas, pode-se argumentar). O Brexit - a aprovação de um "basta" à doença mental politicamente correta - é uma cusparada na cara da elite Eurocrata e um sintoma importante da vontade popular, que vai terminar o serviço da destruição do projeto filo-socialista.

Nos Estados Unidos, a situação é quase ridícula. Apesar do imenso esforço dos grandes veículos de comunicação, Donald Trump venceu. Foi a vitória de um conservador, um empresário, uma figura (ironicamente) construída pela mídia - como o próprio Ronald Reagan. Trump é um homem que despreza toda e qualquer tentativa de "pacificação" com as esquerdas, é alguém que não tem medo de chamar o establishment do que ele é - uma aglomeração de lideranças corruptas, prontas para vender a soberania dos Estados Unidos à imundície de homens como os que escrevem as cartilhas políticas das grandes ONGs internacionais. É alguém que enfrentou a elite do Partido Republicano, humilhou a elite do Partido Democrata e desafia constantemente a ONU, pretensa "mediadora" da política mundial e agremiação de burocratas megalomaníacos. Após a devastação causada por anos de rendição incondicional dos Estados Unidos à indústria chinesa, Trump é a grande esperança dos trabalhadores americanos, traídos por seus representantes, jogados na miséria até mesmo pela esquerda, que tenta, diariamente, se fingir de voz dos humildes. Trump foi um banho de água fria, foi o desmoronamento do discurso irracional do politicamente correto e um soco épico no rosto dos grandes homens da mídia, que se imaginam capazes de refazer o mundo à sua imagem e semelhança - isto é, acreditam que são capazes de transformar uma nação de maioria cristã em uma massa de cocainômanos obcecados pela destruição da Civilização Ocidental, fascinados pelo aborto e que imaginam ter o direito a todo e qualquer luxo que forem capazes de expressar em palavras de ordem mal-articuladas. As falhas nas pesquisas de opinião são a cereja do bolo - a vigarice, a mentira descarada fracassaram vergonhosamente, para alegria da humanidade. O conservador venceu, contra todo o dinheiro da elite hollywoodiana, contra todos os (quase) incalculáveis recursos do globalismo e contra a deficiente baboseira demagógica do "politicamente correto".

Cada uma das vitórias conservadoras é um prego no caixão do esquerdismo. O "Brexit" foi um golpe severo - Trump foi um soco que arrancou boa quantidade de dentes, foi uma humilhação. A opinião pública, que há alguns tenderia à polarização forte, entre países diferentes, caminha, de forma sugestiva, no mesmo sentido: a vasta maioria das pessoas desenvolve o mais sincero desprezo pelo "politicamente correto". Na América Latina, a mesma coisa acontece - nem os cubanos continuam a cultivar tanto medo de chamar o falecido "comandante" de ladrão, ditador e assassino. Os argentinos se livraram de um melanoma chamado Kirchner, os venezuelanos vão às ruas pedindo a derrubada de um líder sem qualquer perspectiva de controlar minimamente a crise que destrói o país. Até mesmo no leste da Europa, que foi, um dia, o bastião do marxismo, a ira contra o "bom-mocismo" ferve. Este é o fim da esquerda - e é uma questão de tempo até que os "patrocinadores" da causa tirem dos adorados movimentos os últimos recursos.

Mais sobre o tema - imigrante critica os resultados das políticas de multiculturalismo na Suécia:

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